Censura é coisa de ditador: constituintes de 1988 acabaram com os cortes da ditadura
03 agosto 2023 às 11h18
COMPARTILHAR
“É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.” Assim a Assembleia Nacional Constituinte enterrava a censura no Brasil. Em sessão realizada no dia 3 de agosto de 1988, os constituintes colocavam um ponto final em um dos instrumentos arbitrários usados pela ditadura para calar a boca dos seus opositores e controlar a informação e o conhecimento. Ditador não gosta de crítica, de liberdade de expressão, de livre pensamento.
Durante a ditadura, a censura foi a tesoura que cortou páginas de jornais e revistas, que proibiu livros, músicas e peças de teatro.
Um censor poderia retalhar um jornal — seu poder era absoluto — se alguma notícia indesejável para o governo estivesse em pauta. O “Estadão” (o venerável jornal da família Mesquita apoiou, por sinal, o golpe civil-militar de 1964), para se livrar dos espaços que a tesoura da censura deixava, começou a publicar poemas ou receitas de bolo. O leitor atento que lesse o jornal saberia que alguma notícia não passou pela censura.
A música também sofreu muito com a censura. Chico Buarque teve que criar o Julinho da Adelaide para conseguir que suas músicas fossem lançadas. Roberto Carlos homenageou Caetano Veloso, que estava no exílio, cantando “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”.
Até a Rede Globo e o jornal “O Globo”, dirigidos por Roberto Marinho (que apoiou o golpe e a ditadura civil-militar), também sofreram com a censura. Antes de começar qualquer programa na televisão, um documento da Censura Federal aparecia informando que o conteúdo a ser apresentado havia sido aprovado para determinado horário.
Os constituintes fizeram muito bem em abolir esse trambolho autoritário chamado censura.