A gestão do IHGG implementada por Jales Mendonça – em parceria com a iniciativa privada, “pari passu” com o poder público –, remonta ao empreendedorismo de seus ancestrais bandeirantes e indígenas

Jales Guedes Coelho Mendonça em frente ao IHGG | Foto: Acervo Pessoal / Nilson Jaime

Quando for descerrada a placa inaugurativa de restauração da antiga sede do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) – ainda no mês de janeiro do ano de jubileu da nonagenária instituição cultural –, duas escritas serão quebradas. A primeira, da celeridade com que uma entidade do segmento da cultura consegue entregar uma obra desse porte, apenas sete meses após a posse de seu presidente. A segunda, causadora da primeira, é a parceria inusitada e celebrada com agilidade, em que o IHGG conveniou-se com uma cooperativa de crédito – o Sicoob UniCentro Br – a fim de ter restaurada a vetusta edificação inaugurada em 1939, que remonta aos primórdios de Goiânia.

Em sua estreia como gestor cultural – demonstrando grandes predicados executivos – o historiador Jales Mendonça, tendo tomado posse na presidência do IHGG em 5 de maio de 2020, já no dia 14 do mesmo mês iniciou tratativas com a diretoria do Sicoob para a celebração da parceria, referendada com a assinatura da quase totalidade dos membros titulares da instituição cultural, fundada há 90 anos.

O Instituto

Com sede no Centro da capital goiana, o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), congênere estadual do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), foi fundado em 7 de outubro de 1932 no icônico Palácio da Instrução – inaugurado em 1929, ao final do governo de Brasil Ramos Caiado, e restaurado em 2021 pelo Governo Estadual – na cidade de Goiás. Inicialmente concebido por Antônio Americano do Brasil (1892 – 1932), mas concretizado segundo idealização do professor José Honorato da Silva e Souza (1898-1952), o IHGG é uma associação civil, com personalidade jurídica de direito privado, de caráter cultural e científico, sem fins lucrativos.

Reconhecido de utilidade pública estadual pelo Decreto-Lei n° 1.202, de 08/04/1939 e de utilidade pública municipal pela Lei Municipal n° 8.170, de 5 de julho de 2003, o IHGG “tem por finalidade precípua constituir-se em guardião da memória histórica e geográfica de Goiás, parte integrante e relevante da memória cultural brasileira”. A princípio fundado apenas como uma congregação de sócios, sem numeração de cadeiras, posteriormente adotou o conceito da Academia Francesa, com cadeiras, patronos e respectivos ocupantes, sucedidos após a morte do titular. Atualmente a instituição é composta por cinquenta cadeiras, com seus patronos e membros titulares, além de sócios eméritos, beneméritos, honorários, correspondentes e correspondentes internacionais.

No ato de sua fundação constituiu-se uma diretoria provisória, tendo como presidente Francisco Ferreira dos Santos Azevedo (o renomado dicionarista “Professor Ferreira”); o advogado e futuro desembargador Dario Délio Cardoso (1° secretário); o professor do Liceu Alfredo de Faria Castro (2º secretário); o farmacêutico e professor Agnelo Arlington Fleury Curado (tesoureiro) e como orador o juiz de direito e escritor Luiz Ramos de Oliveira Couto (Luiz do Couto), substituído quinze dias depois pelo advogado e professor Colemar Natal e Silva (que viria a ser o primeiro reitor da Universidade Federal de Goiás), por motivo de renúncia do titular. Fazia parte também da novel instituição o advogado e jornalista Albatênio Caiado de Godoy; Horestes de Brito; o advogado e professor Augusto da Paixão Fleury Curado; os escritores Vasco dos Reis Gonçalves e Pedro Gomes de Oliveira, e os juízes de direito e, depois desembargadores, Mário de Alencastro Caiado e Benjamin da Luz Vieira.

O primeiro estatuto da instituição foi aprovado em 14 de abril de 1933, ocasião em que se elegeu a primeira diretoria executiva, empossada em 17 de setembro do mesmo ano, no salão nobre do Liceu de Goiás. Era constituída por Colemar Natal e Silva (presidente), Agnelo Arlington Fleury Curado (1º vice-presidente), “Professor Ferreira” (2º vice-presidente), Alfredo de Faria e Castro (1º secretário), Joaquim de Carvalho Ferreira (2º secretário, professor, filho do “Professor Ferreira”) e Gustavo Gonzaga (tesoureiro).

Ao longo de seus 90 anos, o IHGG contou com inúmeros sócios titulares, não apenas geógrafos e historiadores – como a denominação poderia induzir – mas também advogados, economistas, jornalistas, musicistas, geólogos, antropólogos, agrônomos, médicos, enfermeiras, arquitetos, professores, juízes de direito e desembargadores, promotores de justiça e procuradores, poetas, naturalistas, artistas plásticos, memorialistas, educadores, clérigos, e outros que contribuíram com suas pesquisas, livros, trabalhos acadêmicos, ou escritos, para a formação da memória histórica e cultural de Goiás.

Dentre os quase uma centena de sócios titulares que já pertenceram à instituição – apenas os falecidos – pode-se citar: Amália Hermano Teixeira; Antônio Teixeira Neto; Belkiss Spenciére Carneiro de Mendonça; Bernardo Élis; Braz Wilson Pompeu de Pina; Carlos Fernando Filgueiras Magalhães; Célia Coutinho Seixo de Brito; Dalízia Doles; Francisco Ludovico de Almeida Neto; Genesco Ferreira Bretas; Getúlio Araújo; Isócrates de Oliveira; Jacy Siqueira; Jarmund Nasser; Jerônimo Geraldo de Queiroz; José Ângelo Rizzo; José Asmar; José Fernandes; José Lobo; José Luiz Bittencourt; Joaquim Bonifácio Gomes de Siqueira; José Mendonça Teles; José Peixoto da Silveira; José Sêneca Lobo; José Sizenando Jayme; Luiz Palacin; Marilda Godoy de Carvalho; Leolídio Di Ramos Caiado; Mário Ribeiro Martins; Mauro Borges Teixeira; Moema de Castro e Silva Olival; Nelly Alves de Almeida; Nice Monteiro Daher; Noé Freire Sandes; Orlando Ferreira de Castro; Padre José Pereira de Maria; Padre Ruy Rodrigues; Paulo Bertran; Regina Lacerda; Ricardo Paranhos; Rogério Arédio Ferreira; Rosarita Fleury; Ursulino Leão e Waldir Castro Quinta.

Muitos membros não foram enquadrados nas categorias acima citadas – de acordo com levantamento de Mário Ribeiro Martins em seu “Dicionário Biobibliográfico de membros do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás” (Kelps, 2008. 716 páginas) – estando, por assim dizer, “no limbo”, razão pela qual pretendo sugerir em reforma estatutária futura, sejam promovidos à categoria “Ad perpetuam rei memoriam”, bem como todos os titulares que virem a falecer. Dentre esses sócios estão Alcide Celso Ramos Jubé, Altamiro de Moura Pacheco, Antônio Theodoro da Silva Neiva, Ático Vilas Boas, Basileu Toledo França, Claro Augusto de Godói, Eli Brasiliense, Esther Barbosa Oriente, Humberto Crispim Borges, Jaime Câmara, Modesto Gomes, Venerando de Freitas Borges, Victor de Carvalho Ramos e diversos outros, inclusive alguns fundadores, ou que foram membros antes da adoção do sistema de “cadeiras”.

A atual composição do rol de membros do IHGG – cerca de 125 sócios, incluídos 45 titulares, dentre as 50 cadeiras, somados aos eméritos, honorários, beneméritos e correspondentes – congrega grandes valores da historiografia, geografia, ciências, artes e cultura em Goiás. Os decanos da instituição são o escritor e folclorista Bariani Ortencio, e a escritora e historiadora Ana Braga, ambos com 98 anos.

Os presidentes

Atualmente cumprindo mandato de quatro anos, a se encerrar em 2025, Jales Mendonça é apenas o nono sócio a presidir o IHGG nos noventa anos de sua existência. A instituição se caracterizou por certo centralismo, com mandatos longos ou recorrentes, refletindo os contextos políticos das respectivas épocas. Colemar Natal e Silva, por exemplo, foi presidente por inacreditáveis 43 anos, quase metade da existência da instituição.

Em seu início, o IHGG foi presidido interinamente (07/10/1932 a 14/04/1933), pelo dicionarista Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, seguido pelo procurador geral de justiça Colemar Natal e Silva (14/04/1933 a 16/03/1956), sendo reconduzido ao cargo em 16/03/1973, para mandato cumprido até 12/01/1993. O professor de Francês e escritor Alfredo de Faria Castro foi o terceiro presidente, por breve período, entre 16 de março de 1956 e 7 de setembro do mesmo ano, dia em que entregou o cargo ao professor Zoroastro Artiaga, que o exerceu até 20/02/1962.

O poeta e professor universitário Gilberto Mendonça Teles foi o primeiro não fundador a presidir o IHGG, exercendo seu cargo de 20/02/1962 a 23/03/1970, quando passou presidência ao também professor Basileu Toledo França, que cumpriu um único mandato de três anos, até 16/03/1973, transmitido a Colemar Natal e Silva, conforme referido.

Os professores José Mendonça Teles e Colemar e Silva, ambos falecidos, foram os dois mais longevos presidentes do IHGG | Foto: Acervo IHGG

Herdeiro cultural do fundador Colemar Natal e Silva, o professor universitário José Mendonça Teles recebeu a presidência de seu mentor em 12 de janeiro de 1993, permanecendo no cargo por doze anos, até 5 de abril de 2005. Seu sucessor foi o poeta, escritor e promotor de justiça Aidenor Aires, que exerceu mandato até 15 de abril de 2013, quando foi sucedido pelo escritor, advogado e gestor cultural Geraldo Coelho Vaz que, cumprindo oito anos de mandato, entregou o cargo ao atual presidente, Jales Mendonça, em 5 de maio de 2021. As realizações de cada presidente em seus respectivos mandatos – incluindo a construção de uma nova e moderna sede, inaugurada em 12/11/1999 – é tema exaustivo, que será objeto de outra matéria.

O presidente atual

Jales Guedes Coelho Mendonça, o atual presidente, nasceu em Goiânia no dia 17 de novembro de 1974. É bacharel em direito e promotor de justiça desde 1999, atuando presentemente na 52ª Promotoria da Infância e da Juventude de Goiânia. Possui mestrado (2008) em História, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás e doutorado (2012) em História, pela Universidade Federal de Goiás. É autor de dois livros-referências sobre a mudança da capital: “A Assembleia constituinte goiana de 1935 e o mudancismo condicionado” (Editora da UCG, 2008, 278 páginas) e “A Invenção de Goiânia: o outro lado da mudança” (Editora Vieira, 2013. 681 páginas), elaborado a partir de sua tese de doutoramento, reeditado pela Editora da UFG, em 2018. Publicou ainda importante trilogia sobre a história do Ministério Público do Estado de Goiás: “O MP na comarca – exército de um homem só” vol. 1 (Memorial do MP, 2018. 480 páginas); “O MP na comarca – exército de um homem só” vol. 2 (Memorial do MP, 2019. 352 páginas) e “Os cinquenta concursos do MPGO (1948-2018)” (Memorial do MP, 2019. 222 páginas).

O ex-governador e ex-prefeito Iris Rezende Machado e sua filha Ana Paula Rezende – entre o presidente Jales Mendonça e este autor – foram algumas das dezenas de autoridades a visitar o IHGG em 2021 | Foto: Acervo Pessoal / Nilson Jaime

Integrante do IHGG desde 2013, na cadeira n° 5, patronímico de Albatênio Caiado de Godói, Jales Mendonça assume a presidência da instituição com notável desenvoltura. Seu perfil de gestão faz jus ao empreendedorismo que marcou alguns de seus ancestrais. Pela linhagem materna, o presidente do IHGG é trineto de Joaquim Guedes de Amorim, que criou a primeira usina de energia elétrica em Goiás – cuja concessão para iluminar a antiga capital foi recebida do presidente do Estado, João Alves de Castro, em 1918, inaugurada em 1920.

Seu bisavô materno foi Hermógenes Ferreira Coelho (1898-1953) – presidente da Assembleia Legislativa por duas vezes e governador interino de maio a julho de 1936 – que na década de 1920 fundou, na Cidade de Goiás, a Casa Bancária Vieira & Coelho, único estabelecimento do gênero existente. Esse estabelecimento era concessionário do Banco do Brasil na comercialização de ouro. No final da década de 1930, Hermógenes Coelho criou a Empresa Força & Luz de Goiânia (em sociedade com João Coutinho, Felismino Viana e Levi Fróes), proprietária da Usina do Jaó, primeira empresa a iluminar Goiânia. Hermógenes foi também fundador do Matadouro Industrial de Goiás (Matingo) e da Casa Iracema, na Avenida Goiás, centro de Goiânia.

Pela linhagem paterna, Jales Mendonça é filho de Eduardo Gomes Cotta Mendonça (1952 – 2020) – com dona Maria de Fátima Ferreira Coelho Mendonça (n. 1954); neto do médico Joaquim Mendonça Sobrinho (1909-1956); e bisneto do farmacêutico meia-pontense (Pirenópolis) – formado pela Universidade do Brasil em 1923 – João Mendonça (1891-1962), potentado que se estabeleceu em Alemão (atual Palmeiras de Goiás) em 1913, onde teve farmácia, armazém e agência bancária, correspondente do Banco do Brasil na região.

João Mendonça era filho de Rosa Alzira Jayme de Mendonça (1860-1931), e neto do genearca da família Jaime, Coronel João Gonzaga Jaime de Sá (1831-1908) – comerciante e autor de supostos 58 volumes de diários manuscritos, cinco deles expostos no IHGG –, e por ele descende do padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury (1793-1846), editor da “Matutina meiapontense”, primeiro Jornal de Goiás; do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o primeiro “Anhanguera” (Século XVII); e do português João Ramalho (f. 1582), consorte da índia Bartira, filha do Cacique Tibiriçá (1487-1562) deca-hexavô (16º avô) de Jales Mendonça.

É lícito supor que Jales Mendonça herdara de seu ancestral, Cacique Tibiriçá, a diplomacia com que o “morubixaba Tupiniquim” se entendeu com os Jesuítas de Manoel da Nóbrega, para lhes dar proteção na fundação da Vila de São Paulo de Piratininga (1554); de João Ramalho – responsável por mediar as ações desbravadoras (1532) de Martim Afonso de Souza junto aos silvícolas –, a audácia que o fez deixar os arredores de São Vicente, subir o Planalto de Piratininga e estabelecer laços de sangue com os indígenas de Tibiriçá; de Bartolomeu Bueno da Silva (pai), o primeiro Anhanguera, a intrepidez que o levou a singrar o sertão do Brasil no último quartel do Século XVII, em busca de riquezas e de conquistas de terras (até então pertencentes à Espanha) para Portugal; e do Padre Gonzaga Fleury, “Patrono da imprensa goiana”, há que ter herdado o pendor para as letras e historiografia.

É sob o signo dessa notável linhagem que Jales Mendonça, hoje considerado o maior especialista em “mudancismo” – período de mudança da capital goiana da Cidade de Goiás para Goiânia, entre 1933 e 1937, principalmente – assumiu a presidência de uma das mais conceituadas instituições culturais de Goiás.

Gestão inovadora

Todos os presidentes do IHGG prestaram relevantes serviços à instituição e à cultura de Goiás, durante suas nove décadas de existência. Historicamente o IHGG, assim como todas as congêneres do setor cultural, se mantinha financeiramente através das parcas anuidades dos sócios, eventuais doações e subvenções governamentais, sejam diretas, ou através de editais de fomento, esses de livre concorrência, portanto incertos. Por essa razão Bariani Ortencio diz, brincando, ser o eterno “tesoureiro de todas as instituições culturais sem dinheiro em Goiás”. Brincadeira que todos sabem ser a mais cristalina verdade, lamentavelmente. Em geral as despesas se dão às expensas do presidente, ou da diretoria, quando muito através do auxílio de um ou outro sócio.

A atual gestão do IHGG incrementou mais 24 estantes deslizantes para o Acondicionamento de todo o acervo da instituição | Foto: Acervo Pessoal

O que Jales Mendonça fez de inovador nesses sete meses de gestão no IHGG foi buscar a sensibilização de empresários, políticos e autoridades para as vantagens de associar suas imagens, marcas, ou empresas que representam, a uma instituição que traz a credibilidade e o “peso” de 90 anos de tradição. Dentre políticos e personalidades públicas que visitaram o IHGG nesses sete meses da gestão Jales Mendonça, estão o ex-prefeito Iris Rezende, sua filha Ana Paula Rezende e o ex-conselheiro Paulo Ortegal; o prefeito de Goiânia Rogério Cruz; o deputado federal Glaustin da Fokus; o presidente da Assembleia Legislativa Lissauer Vieira; o presidente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, Edson Ferrari; o presidente do Tribunal de Contas dos Municípios, Joaquim de Castro; os deputados estaduais Álvaro Guimarães, Bruno Peixoto, Delegado Eduardo Prado, Pastor Jeferson, Iso Moreira e Virmondes Cruvinel; os vereadores por Goiânia, Aava Santiago, Anselmo Pereira, Bruno Diniz, Edgar Ribeiro, Kleybe Morais, Leandro Sena, Léo José, Ronilson Reis, Sabrina Garcez e Sandes Júnior; o secretário estadual de Cultura, César Augusto Moura; o secretário municipal de Cultura de Goiânia, Zander Fábio; a secretária municipal de Direitos Humanos, Doutora Cristina, o Reitor da UFG, Edward Madureira Brasil e o presidente da Associação de Egressos da UFG, Eliomar Pires.

Visitaram ainda o IHGG, o ex-senador Demóstenes Torres; os ex-deputados federais Daniel Vilela e Vilmar Rocha; o ex-vice-prefeito Agenor Mariano; a ex-procuradora Geral de Goiânia, Ana Vitória Gomes Caiado; o presidente da Federação Goiana de Municípios e prefeito de Campos Verdes, Haroldo Naves; o presidente do Sesc-Fecomércio, Marcelo Baiocchi; o presidente do Sindicato dos Advogados e conselheiro da OAB-Goiás, Alexandre Ramos Caiado; a presidente do Conselho Regional de Farmácia, Lorena Baía; o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-Goiás), Fernando Chapadeiro, e dezenas de advogados, dentre eles, Ney Moura Teles, Josserran Volpon, Rodolfo Mota e Diogo Figueiredo.

Da iniciativa privada, visitaram o IHGG o presidente do Sicoob UniCentro Br, Raimundo Nonato Leite Pinto e os diretores Diego Mafia Vieira e Rodrigo Naves Pinto; o presidente da São Salvador Alimentos, José Carlos Garrote de Souza (“Zé Garrote”); o presidente do grupo Novo Mundo, Carlos Luciano Martins Ribeiro; o presidente da Associação Educativa Evangélica de Anápolis, mantenedora da UniEvangélica, Augusto Ventura; o empresário e ex-secretário da Fazenda Jales Fontoura; o empresário e ex-deputado Samuel Belchior, e dezenas de intelectuais, professores e presidentes e membros de instituições culturais.

Com todos os visitantes, um ritual semelhante: o presidente apresenta as instalações da instituição, conversa sobre seus 90 anos de história, fala de seus planos de gestão e os convida a serem parceiros do IHGG. Resultaram dessas interações a doação de 24 estantes deslizantes, pela Prefeitura de Goiânia e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, com apoio da Universidade Evangélica de Goiás. Diversos parlamentares se comprometeram a incluir emendas para o desenvolvimento de projetos culturais ou melhorias no IHGG. A Secretaria Estadual de Cultura (Secult-Goiás) cede servidores há várias décadas, benefício imprescindível para o funcionamento de uma instituição sem fins lucrativos.

Os diretores do Sicoob, Diogo Mafia Vieira, Raimundo Nonato Leite Pinto e Rodrigo Naves Pinto visitam o presidente Jales Mendonça e o tesoureiro Pedro Nolasco, no IHGG | Foto: Acervo Pessoal

O presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI), Valterli Guedes, intermediou a doação de todo o acervo dos jornais Cinco de Março e Diário da Manhã, pelos jornalistas Batista Custódio e Júlio Nasser. O acervo já se encontra no IHGG. Os advogados Demóstenes Torres, Ney Moura Teles e Josserand Volpon fizeram doações financeiras, que propiciaram a manutenção da instituição nos primeiros meses e a aquisição de uma máquina de escanear documentos, que proporcionou a digitalização de dezenas de jornais de diversas cidades e a criação da Hemeroteca Virtual do IHGG (hemeroteca.ihgg.org). A empresa São Salvador Alimentos estabeleceu Contrato de Apoio Cultural, para ajuda mensal ao Instituto, que já recebe o benefício. E o Tribunal de Contas dos Municípios doou equipamentos de informática. O presidente fez gestões junto à diretoria do Banco do Brasil, em Brasília, para a criação em Goiânia de uma unidade do Centro Cultural Banco do Brasil, ideia referendada por diversas instituições, inclusive o CREA-GO, UFG e Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).

Uma parceria emblemática, contudo, foi estabelecida entre o Sicoob e o IHGG. Em tempo recorde, já que o contrato foi assinado no dia 17 de setembro de 2021, a instituição financeira custeou a restauração da antiga sede do Instituto, cujas obras serão entregues brevemente. A parceria proporcionou também a pintura de toda a sede atual, além da troca da iluminação e revestimento dos vidros (“insulfilm”) da edificação.

Pelo contrato de cinco anos, renovável, o Sicoob instalará na antiga sede uma “agência cultural”, mantidas na edificação as salas Colemar Natal e Silva e Jarbas Jayme, com respectivos acervos. A contrapartida será o recebimento, pelo IHGG, de aluguel mensal, de grande importância para os gastos ordinários da instituição.

A atual gestão conta com o incentivo e a permanente colaboração dos servidores da instituição, e de toda a diretoria, em especial de Pedro Nolasco de Araújo – filho do reitor da UFG, José Cruciano de Araújo, e neto do poeta Leo Lynce – que sucedeu Bariani Ortencio como “tesoureiro da instituição sem dinheiro”.

A Casa Rosada

A já denominada “Casa Rosada de Goiânia” – uma comparação benevolente com o icônico Palácio do Governo Argentino, ambos pintados no mesmo tom de rosa – se não tem a imponência arquitetônica e o luxo da moradia oficial do país austral, pouco lhe fica devendo em simbologia histórica, respeitadas as proporções.

Algumas importantes instituições goianas funcionaram nas acomodações da vetusta sede. Consta que a OAB-Goiás, tendo como seus fundadores alguns membros do IHGG – como Benjamin da Luz Vieira e Albatênio Caiado de Godoy – reuniu-se naquela casa em algumas ocasiões, após sua transferência para Goiânia. Da mesma forma, antes da fundação da UFG, a instituição-irmã (também criada por Colemar Natal e Silva) utilizou-se de suas instalações para a ministração das aulas de História e Geografia. Consta ainda que a Agremiação Goiana de Teatro (AGT) fez uso das salas da icônica construção, bem como a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag), então presidida pela escritora Ana Braga. Na virada para o século XXI, após o incêndio ocorrido no então Centro Administrativo, parte do acervo documental do Governo de Goiás foi acomodado na sede do IHGG, até a finalização da reforma do hoje Palácio Pedro Ludovico Teixeira. Funcionou ali também, neste período, o Gabinete Militar da Governadoria.

A construção da antiga sede do IHGG se deu ao final da década de 1930, em parte do terreno de três lotes doados pelo Governo de Goiás. Trata-se da primeira edificação construída no Setor Sul – confluência das ruas 82 e 85, em frente ao Palácio Pedro Ludovico –, cuja pedra fundamental foi assentada por Colemar Natal e Silva, no dia 25 de julho de 1938, e inaugurada em 5 de outubro do ano seguinte.

A “Casa Rosada”, em fase final de restauração | Foto: Nelson Santos

Num período de tensionamento pós-revolucionário e de consolidação da força política que emergira em 1930, a localização do terreno doado pelo Governo – a duzentos metros do Palácio das Esmeraldas –, dimensiona a importância do grupo original formador do IHGG, constituído em sua maioria, por elementos assumidamente pedristas, como se denominava à época os partidários do governador. Desse grupo, todos mentores intelectuais e formadores de opinião na nova capital de Goiás, fazia parte desembargadores, procuradores, juízes, professores e jornalistas, uma elite intelectual que, somados aos congêneres das recém criadas Associação Goiana de Imprensa (AGI, 1933) e Academia Goiana de Letras (AGL, 1939), delineariam a base do pensamento político de Goiás pelos próximos 80 anos. Por ele, a importância estética, econômica, estratégica, social e cultural de Goiânia, sobrepujaria os senões políticos ou totalitários próprios daquele período.

A construção da sede, em um curto período de catorze meses, numa época de escassez de recursos financeiros e logísticos, foi uma façanha, como fora o início da construção de Goiânia, ainda em plena efervescência. O projeto da sede do IHGG é do arquiteto, escultor, pintor e musicista José Amaral Neddermeyer (São Paulo, 1894 – Goiânia, 1951), que se transferira da capital paulista para Goiânia em 1936. Neddermeyer seria responsável técnico por diversas obras na capital em construção pelos próximos 15 anos, através da empresa Construtora Lar Nacional, e como membro da Seção de Arquitetura da Superintendência Geral de Obras. São de sua autoria, além da sede do IHGG, o primeiro prédio da Sociedade Goiana de Pecuária (hoje SGPA), na Avenida Goiás entre a Avenida Anhanguera e a Rua 3, o Lord Hotel e o Teatro Goiânia (inaugurado em 12 de junho de 1942, durante o Batismo Cultural de Goiânia), este em parceria com o arquiteto Jorge Félix de Souza.

Embora a “Casa Rosada” seja correntemente associada ao estilo “Art Déco” (termo abreviado do francês “Arts Décoratifs”), muito comum no traçado arquitetônico original de Goiânia, há controvérsias sobre a veracidade da suposição. Inclusive, a lenda urbana de que estaria em Goiânia “o maior patrimônio ‘Art Déco’” do país” não se sustenta, já que o Rio de Janeiro possui cerca de 400 edificações e monumentos nesse estilo, inclusive o Cristo Redentor. Igualmente São Paulo e Belo Horizonte são pródigos em edificações e monumentos Art Déco.

A Arquiteta Anamaria Diniz, mestre e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília, visitou recentemente o IHGG e afirma textualmente não tratar-se de “Art Déco”, sem demérito para o estilo “Eclético” em que ela insere a edificação. De fato, consta que Neddermeyer era adepto da Arquitetura Eclética, vertente surgida no Século XIX e que procura aproveitar o que há de melhor em cada estilo, do gótico ao contemporâneo, misturando no mínimo dois deles. É possível identificar elementos “Arte Déco” na edificação, mas dentro da concepção eclética. Vale inferir que as paredes laterais da “Casa Rosada” talvez tenham sido construídas sem rebuscamento – já que há uma grande diferença entre as fachadas frontal e laterais do prédio – em razão da falta de recursos financeiros.

Em breve a primeira sede do IHGG estará restaurada, preservada para as futuras gerações e proporcionando a sustentação financeira de uma das mais tradicionais instituições culturais de Goiás e a mais antiga de Goiânia.

A gestão do IHGG implementada por Jales Mendonça – em parceria com a iniciativa privada, “pari passu” com o poder público –, remonta ao empreendedorismo de seus ancestrais bandeirantes e indígenas. A mistura de diplomacia, intrepidez, criatividade e agilidade, associados à proatividade e envolvimento da diretoria e de todos os seus membros, proporcionarão as condições para que a instituição aprimore ações que lhe permitirão desenvolver e atingir com eficácia os objetivos a que se propõe, há nove décadas ininterruptas.