“O quadro Guernica, que lhe pertence, está atualmente sob a guarda do Museu de Arte Moderna de Nova York, mas tem um destino estipulado pelo pintor: no dia em que Franco morrer, a obra prima irá para a Espanha. Guernica revelou, ao mundo, as atrocidades do bombardeio aéreo de uma pequena cidade basca, indefesa, fora das rotas da própria guerra civil. Sabe-se hoje que os aviões, as bombas e os pilotos que destruíram a cidade eram alemães, faziam parte de uma tropa de elite do nazismo que procurava testar a eficácia dos novos meios e técnicas do extermínio em massa. Além do seu valor como obra prima da pintura do nosso século, Guernica passou a ter a força e o valor de um documento humanitário e político. Picasso revelava a consciência social sem a qual o artista nunca se situará dentro do seu tempo. Por isso mesmo, Guernica marcou o encontro de sua trajetória com o destino: Picasso não seria mais um artista genial da Espanha ou de Paris. Era um artista da humanidade, e de cada homem em particular.”

Carlos Heitor Cony escreveu o perfil do pintor espanhol Pablo Picasso para a revista “Manchete” em 1973, logo após a sua morte. Além de falar da vida e da obra do pintor, Cony não poderia deixar de falar do quadro “Guernica”, que Picasso pintou em 1937 e registrava para a História o horror da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O conflito entre as tropas do general Francisco Franco contra a Frente Popular. A guerra começou em 17 de julho de 1936 e é considerada o ensaio geral para a Segunda Guerra Mundial. (Frise-se que vários brasileiros participaram das batalhas, entre eles Apolônio de Carvalho e José Gay da Cunha.)

Guernica: símbolo de uma tragédia da Espanha | Foto: Reprodução

Francisco Franco recebeu ajuda militar do nazifascismo (Itália e Alemanha), enquanto a Frente Popular contava com o apoio soviético e brigadistas de vários países (o escritor George Orwell, autor do romance distópico “1984”, era um deles). Os novos aviões alemães foram testados no conflito causando destruição e morte, como aconteceu em Guernica. Franco derrotou seus inimigos e chegou ao poder na Espanha implantando um governo autoritário.

Como lembrou Carlos Heitor Cony em 1973, aquela guerra tocou profundamente Pablo Picasso e o ataque aéreo à Guernica serviu de inspiração para fazer o famoso quadro para denunciar os horrores do franquismo aliado ao nazifascismo em sua terra natal.

Cumprindo o desejo de Picasso, a obra foi levada para a Espanha logo após a morte de Franco, em 1975, e está no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri, capital da Espanha.

Alemanha testou homens, bombas e aviões em Guernica

No livro “A Batalha pela Espanha — A Guerra Civil Espanhola: 1936-1939 (Record, 711 páginas, tradução de Maria Beatriz de Medina), o historiador inglês Antony Beevor escreve: “A Guerra Civil Espanhola, como o governo nazista reconheceu desde o princípio, constituía o mais perfeito campo de testes para armamentos e táticas. O Exército Vermelho viu a oportunidade mas, devido à ortodoxia militar stalinista depois da execução do marechal Tukhatchevski, não pôde aproveitá-la muito”.

Antony Beevor afirma, na página 333 de seu livro, que “pesquisas mais recentes” indicam que morreram mais de 300 pessoas em Guernica.