Muita gente fala que acordava domingo de manhã para ver Ayrton Senna correr na Fórmula 1. Eu achava bom demais vê-lo correr com sua McLaren ou Williams. Não sou do tempo que ele corria pela Lotus. Senna na pista, ultrapassando Nigel Mansel ou Alain Prost, era uma delícia, fazia com que nós, brasileiros, nos sentíssemos os maiorais. Se em outras áreas os países desses dois nos deixavam para trás, nas pistas de Fórmula 1, Senna nos representava e garantia a dianteira brasileira contra as potências europeias. Era o nosso Ulisses — sim, o personagem esperto de Homero. Sempre chegava na frente — tanto pela técnica apurada quanto pela esperteza (o pulo do gato).

Mas não era só domingo de manhã que a gente acordava para ver Senna correndo. Quando a corrida era no Japão, acordávamos mais cedo ainda, de madrugada. Principalmente em 1991, quando Senna ganhou o tricampeonato. Ver Mansel sair da pista já nos fazia berrar sem medo da bronca do vizinho porque o vizinho também estava comemorando o erro que levou Senna ao tri.

O acidente em que morreu Ayrton Senna | Foto: Reprodução

As narrações de Galvão Bueno deixavam as corridas de Senna ainda mais emocionantes. Nas últimas curvas do Grande Prêmio do Japão, Senna estava em primeiro lugar e com o título garantido. Seu colega de McLaren, Gerhard Berger, estava em segundo. Senna deixou Berger passar. Quem ouve a narração do Galvão acha que foi uma maravilha, um gesto de grandeza. Quem lê o livro “Na Reta de Chegada”, no qual Berger recorda sua carreira, percebe que não foi bem assim. A “deixada” de Senna na última curva deixou Berger frustrado. Os dois continuaram amigos até a morte de Senna, em 1994.

Hoje seria aniversário dele. Os recordes de Senna já foram batidos por Michael Schumacher e Lewis Hamilton, mas a lenda continua, o que ele fez na Fórmula 1 não será jamais esquecido, jamais apagado e servirá para que novas gerações como Hamilton continuem o que Senna deixou.

Ayrton Senna morreu aos 34 anos. Se estivesse vivo, faria hoje 63 anos.