As letras ressignificaram a vida de Carlos Lacerda
15 setembro 2023 às 11h46
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Em 1967, Carlos Lacerda não exercia nenhum cargo público. Já fazia dois anos que deixara o Governo da Guanabara e os amigos que o acompanharam no golpe que derrubou João Goulart três anos antes não estavam mais do seu lado. Os udenistas viraram arenistas e os inimigos estavam no MDB ou na luta armada. Mesmo assim, Lacerda era uma liderança política e muito influente na opinião pública.
Passados os tempos de Parlamento e de Governo, Lacerda seguiu o caminho das letras. Se não tinha mais o microfone da tribuna da Câmara dos Deputados, restava-lhe a máquina de escrever para se fazer presente. A Revista Manchete do amigo Adolpho Bloch reservou suas páginas para que Lacerda escrevesse sobre a sua trajetória política. Ele recordou os acontecimentos dos quais viu de perto ou participou ativamente deles. Se não podia mais ser Presidente da República, se os amigos de partido e de quartel o deixaram de lado, não restava uma alternativa a não ser escrever. Era preciso colocar no papel a sua versão sobre a história ( e da sua própria história).
Foi assim que Lacerda ressignificou sua vida depois da sua marginalização política e cassação dos direitos políticos. Não é à toa que ele fundou em 1966 a Editora Nova Fronteira. A sua trincheira passou a ser os livros. Na década de 1970, ele publicou as memórias de várias lideranças políticas e militares. As suas também foram publicadas por meio da entrevista concedida em 1977 para o Grupo Estado. Quando o seu “Depoimento” foi lançado, Lacerda já não estava mais entre nós.
A imagem deste post é a capa do livro “Rosas e pedras no meu caminho”, lançado pela Editora UnB, que reúne os textos escritos por Lacerda em 1967 para a Revista Manchete. É o registro da trajetória de vida de um político que testemunhou os principais acontecimentos do Brasil no século passado e, em muitos deles, foi um dos personagens principais. Fora da política, as letras deram à Lacerda um novo significado para a sua vida.