Os governos autoritários investem na propaganda de maneira acentuada. As duas ditaduras que passaram por aqui não pouparam esforços em caprichar na exaltação dos seus feitos.

Getúlio Vargas criou em 27 de dezembro de 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda, mais conhecido pela sigla DIP (Lourival Fontes, deu chefe, chegou a ser chamado de “Goebbels brasileiro”). Naquela época, o Brasil vivia a ditadura do Estado Novo (1937-1945) e o departamento tinha como função censurar a imprensa e fazer a propaganda do governo. O rosto de Vargas estamparia boa parte da propaganda do DIP. Era quase efígies de santo.

Quando se aproximava o 1º de maio, Dia do Trabalhador, era o período que os propagandistas oficiais mais trabalhavam. Vargas era apontado como o pai dos pobres, o camarada número um dos trabalhadores (criou, por exemplo, o salário-mínimo e uma legislação trabalhista mais avançada, no contexto da época). Eram produzidos cartazes e folhetos exaltando o grande líder e a consolidação das leis trabalhistas.

O DIP não focou apenas em propaganda impressa. Filmes foram feitos mostrando Vargas desfilando no Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, celebrando as graças que seu bondoso governo concedia aos trabalhadores. Além disso, a propaganda oficial também mostrava o desenvolvimento econômico do Brasil por causa da industrialização. No rádio, a voz do Brasil era a voz de Vargas. Compositores (como Ataulfo Alves) eram convocados para produzir músicas incentivando o trabalho.

Enquanto a propaganda exaltava o Estado Novo, seus opositores eram presos e torturados. A imprensa censurada não poderia denunciar os crimes da polícia varguista e nem questionar os exageros das propagandas do DIP. Quem és tu, jornalista, para questionar o coração bondoso e generoso de Getúlio Vargas?

Trinta anos depois, sob o comando dos militares, o Brasil veria novamente a propaganda oficial exaltar o governo dando ênfase ao patriotismo e a grandeza deste país que só ia pra frente. Naquela época, a imprensa também estava censurada e não poderia questionar nada. Cadê teu amor à pátria, jornalista?