Márcio Moreira Alves era deputado federal pelo MDB. Em setembro de 1968, ele subiu na tribuna da Câmara para fazer um discurso. Aproveitando os festejos do dia da Independência, o deputado pediu que o povo boicotasse os desfiles e as moças não namorassem oficiais do Exército. O discurso foi visto pela alta cúpula militar como ofensivo às Forças Armadas. O ministro da Justiça, Gama e Silva, enviou à Câmara um pedido de autorização para cassar o mandato do deputado. Ao ser posto em plenário, os deputados rejeitaram o pedido. É claro que isso não ficaria barato. No dia 13 de dezembro de 1968, o presidente Arthur da Costa e Silva editou o quinto Ato Institucional da ditadura. Uma das medidas era fechar o Congresso Nacional além de ampliar a cassação de pessoas contrárias à ditadura.

Não foi apenas o discurso de Márcio Moreira Alves que motivou o AI-5. Aquilo foi a gota d’água. O ano de 1968 foi intenso no Brasil. As ruas ficaram tomadas de gente se manifestando contra o autoritarismo dos militares que governavam o país. A política se baseava no “sim” e “sim, senhor”. Quantas lideranças perderam seus direitos políticos e tiveram que sair do país por conta das perseguições e represálias. Quantas pessoas sumiam sem deixar pistas. Muitos que apoiaram o golpe de 1964 já sentiam na pele a dureza dos tempos sombrios que pairavam sobre o Brasil.

Na edição seguinte ao ato, o “Jornal do Brasil” foi às bancas com uma previsão do tempo que dizia tudo sobre os anos que viriam: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º em Brasília. Mín. 5º nas Laranjeiras”. No bairro carioca citado na previsão do tempo ficava o palácio onde o AI-5 foi assinado. Em Brasília, o tempo quente não tinha nada a ver com o Planalto Central. A fervura do ato fez derreter os mandatos de vários políticos, inclusive o de Márcio Moreira Alves.