Adolpho Bloch gostava de verificar pessoalmente a frequência dos seus jornalistas que trabalhavam na revista “Manchete”. Ronaldo Bôscoli, sabendo disso, pegava um paletó e deixava em cima da sua cadeira. Caso o chefe perguntasse por ele, um colega da mesa ao lado diria que Bôscoli fora pegar um cafezinho e já estava voltando. Quem contou essa história foi Denilson Monteiro, no seu livro “A Bossa do Lobo”, que conta sua vida. A sede da “Manchete” ficava na Rua do Russel, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Da janela da redação dava para ver a Baía da Guanabara. Uma beleza daquela não poderia ser só vista da janela.

A revista “Manchete” foi fundada em 26 de abril de 1952. Era a principal publicação da Editora Bloch e chegou a ser a revista de maior circulação do país, derrotando “O Cruzeiro”, revista dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.

Juscelino Kubitschek e Adolpho Globo: amigos e aliados | Fotos: Reprodução

Construção de Brasília: década de 1950

Já comentei sobre a “Manchete” várias vezes. As fotos que ela publicava eram lindas. No governo Juscelino Kubitschek, na década de 1950, Bloch colocou sua “Manchete” para registrar a construção de Brasília.

O mineiro Pé de Valsa era figura carimbada nas páginas da revista durante sua passagem pela Presidência da República e depois que foi cassado pelos militares, em 1964. Aliás, no fatídico acidente na Via Dutra, Kubitschek levava um livro sobre o qual estava fazendo a resenha para ser publicada na revista.

As páginas da “Manchete” não tinham apenas fotos bonitas. Os principais escritores do país escreveram nelas como Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino, David Nasser e Nelson Rodrigues. Em 1983, Manchete não era apenas revista, mas televisão. Se havia qualidade na feitura da revista, o mesmo deveria acontecer na televisão.

Quando eu era pequeno, lembro-me do meu pai comprar a “Manchete” na banca de jornais da Praça Cívica, ao lado dos Correios (que era do famoso João). Minha mãe lia e eu, que estava aprendendo a ler, só sabia que o nome da revista era o mesmo do canal 11. Eu lembro do slogan “Aconteceu, virou Manchete” aparecer sempre que a tevê anunciava a mais nova edição da revista.

A revista e a Rede Manchete não existem mais. Apenas lembranças de um tempo bom que a gente viveu.