A triste solidão de Olegário Moreira Borges

25 março 2025 às 18h45

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Olegário Moreira Borges empresta seu nome para batizar um colégio estadual no Setor Faiçalville, em Goiânia. Mas, em março de 1972, Olegário vivia na miséria, em um cômodo que mal cabia cama, mesa, cadeira e fogão. Era uma realidade totalmente diferente da que ele viveu décadas antes quando era um homem público que tanto fez pela educação em nossa cidade. Quem via o senhor de barbas compridas, cabelos despenteados, não imaginava que ali estava um dos pioneiros de Goiânia, um dos muitos trabalhadores que vieram para cá ajudar o interventor Pedro Ludovico a construir a nova capital de Goiás.
Nascido em Candeias (MG), em 1901, Olegário se mudou para Goiás em 1931, morando em Anápolis. Dois anos depois, ele se mudou para Campinas e comprou a ideia de Pedro Ludovico de que, naquelas campinas, seria construída a nova capital de Goiás. Olegário trabalhou na roçagem do mato que, em pouco tempo, se tornaria parte daquele empreendimento histórico. Mesmo ajudando na construção de Goiânia, ele permaneceu morando na Campininha das Flores.
Iniciou sua vida pública na década de 1940. Elegeu-se vereador por Goiânia entre 1946 e 1950. Foi eleito novamente para o mesmo cargo entre 1954 e 1958. Seu mandato na Câmara Municipal foi marcado pela atuação no setor educacional abrindo várias escolas municipais. Do seu bolso construiu um prédio que foi doado para uma escola e pagou os seus professores. Atento a realidade dos alunos que trabalhavam de dia e só tinham tempo disponível para estudar à noite, Olegário criou as Escolas Trabalhistas.
Em 1960, ele deixou o Legislativo para atuar no Executivo. Nas eleições municipais daquele ano, Olegário se elegeu, pelo PTB, vice-prefeito de Goiânia. Hélio Seixo de Brito, da UDN, foi eleito prefeito. Assumiu a Prefeitura por três meses, quando o titular da pasta se licenciou do cargo para uma viagem aos Estados Unidos. Ao jornalista Oliveira Gomes, da Folha de Goiaz, Olegário afirmou: “Trabalhei muito na política. Fui o maior festeiro para os políticos. Fiz a festa quando da chegada da primeira locomotiva em Goiânia”.
Olegário Moreira Borges jamais se esqueceu do amigo que a política lhe deu: Alfredo Nasser. “Se ele estivesse vivo, eu não estaria como estou” disse. “Também o ex-governador José Ludovico era muito atencioso comigo e tinha atenção a todos os meus projetos”. O pequeno quarto que ele vivia ficava na Avenida Pernambuco, no Setor Campinas. Antônio José Bueno, amigo dos tempos que era vice-prefeito de Goiânia, convidou-o diversas vezes para morar com ele, mas Olegário não quis. Outra ajuda veio de José Balduíno, que trabalhava para o Governo Otávio Lage e lhe ofereceu o cargo de escriturário do Crisa. Por conta de uma congestão, Olegário Moreira Borges foi afastado do cargo e recebia uma pensão do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
Ele morreu em 1979, em um acidente automobilístico no Setor Sudoeste em Goiânia. Oliveira Gomes encerrou sua reportagem sobre Olegário Moreira Borges assim: “Olegário vive com sua solidão, com suas lembranças esperando que este seu fim de vida o Estado ainda se lembre dele e conceda a sua aposentadoria tão esperada e tão custosa.” Ao batizar uma escola estadual de Goiânia, pelos menos reconheceram a grande atuação de Olegário Moreira Borges no setor educacional.
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