A Sorbonne de Castello Branco e a linha dura de Costa e Silva “morderam” a democracia
11 abril 2023 às 16h02
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Dois dias depois da publicação do Ato Institucional, o Congresso se reuniu em 11 de abril de 1964 para eleger o novo presidente da República e o vice-presidente, que governaria até final de 1966, quando se encerraria o mandato de João Goulart. Os parlamentares elegeram o marechal Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967 — viveu 69 anos) para a Presidência e José Maria Alkmin (de Minas Gerais) para vice-presidente. No começo, militares e civis compartilhavam espaço no Palácio do Planalto.
O nome de Castello Branco foi escolhido na reunião dos governadores que apoiaram o golpe de 1964, no Rio de Janeiro. Segundo eles, o marechal teria o respeito das Forças Armadas para pacificar os quartéis. O seu mandato foi visto, num primeiro momento, como uma transição.
O que os políticos esperavam mesmo eram as eleições presidenciais de 1965. Quando Castello Branco decidiu pela prorrogação do seu mandato até março de 1967, os aliados do golpe — como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto — começaram a perceber que embarcaram em uma canoa furada.
O senador (por Goiás) Juscelino Kubitschek votou em Castello Branco e foi cassado meses depois. Carlos Lacerda foi cassado adiante. A cassação do político e jornalista Lacerda foi um recado do tipo: podemos cassar qualquer um que se oponha — minimamente que seja — ao regime discricionário.
Aquele 11 de abril de 1964 inaugurava as eleições indiretas para presidente. O povo ficaria 25 anos sem escolher o chefe do Poder Executivo. A data também inaugurava a batalha entre os militares moderados e os da linha dura, como o general Arthur da Costa e Silva.
Na verdade, eram dois grupos: um (a dita “Sorbonne” de Castello Branco, Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel) queria que a ditadura mordesse menos e outro que a ditadura mordesse mais. Acrescento: independentemente da mordedura, os dois grupos “mordiam”… e, sobretudo, morderam, de maneira implacável, a democracia.