O ano de 1966 foi um período de transição para os Beatles. Eles já tinham conquistado o mundo, suas músicas ocupavam as primeiras posições das paradas de sucesso, os shows sempre lotados com fãs se esgoelando para mostrar o quanto amavam seus ídolos. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr eram os jovens cabeludos mais famosos do mundo. Por onde iam, causava alvoroço.

Eles poderiam muito bem se acomodar no sucesso conquistado. Steve Turner mostra no livro “Beatles 1966: o ano revolucionário” que eles não ficaram na zona de conforto. O ano de 1966 foi marcado como o período em que os Beatles mergulharam em águas mais profundas. Turner mostra a chateação da banda com os shows ao vivo. Eles não se ouviam e não fazia sentido cantar para um público que só queria gritar e não ouvir. O jornalista britanico perpassa pelos doze meses de 1966 e conta como se deu a transformação na vida dos integrantes da maior banda de todos os tempos. Ao terminar de ler o livro, o leitor reconhecerá que as decisões tomadas pelos Beatles em 1966 foram fundamentais para a criação dos discos seguintes como “Sgt Pepper’s”, o “White Album” e o “Abbey Road”.

Os Beatles pararam de fazer shows ao vivo em agosto de 1966, o que permitiu mais tempo para compor e utilizar as novas técnicas de gravação. O maior registro dessas mudanças está no disco “Revolver”, o único lançado naquele ano. Guitarras distorcidas, sons tocados ao contrário, letras sem o “yeah, yeah, yeah”. Os quatro garotos de Liverpool amadureceram musicalmente. A fama serviria para terem acesso facilitado aos grandes nomes das artes dos anos 1960.

Por mais que Turner foque em 1966, é impossível não pensar nos anos que passaram e nos que viriam pela frente. O disco “Rubber Soul”, lançado em 1965, já dava mostras sobre as mudanças nas músicas dos Beatles. Eles estavam abertos ao novo e dialogavam com outras bandas que compartilhavam os mesmos interesses. Turner fala também do uso das drogas, em especial o LSD, que “abriu a mente” dos Beatles e os tornaram mais sensíveis para as mudanças no âmbito cultural.

Os Beatles de dezembro de 1966 em nada se pareciam com os Beatles de Janeiro de 1966. Os cabelos ficaram mais curtos, deixaram o bigode crescer. Os garotos de Liverpool estavam virando gente grande.