Erik Satie: um compositor excêntrico

24 maio 2022 às 13h57

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A música de Satie foi, em seu tempo, apreciada por poucos e desprezada pela maioria dos compositores e críticos musicais
Dono de uma personalidade curiosa, o compositor francês Erik Satie (1866-1925), não está na lista dos mais conhecidos. Porém sua obra está nos nossos ouvidos, principalmente na espera do telefone comercial de consultórios médios, em salas de espera e em propaganda de sabonete.
As Gymnopédies são três composições para piano. Curtas e atmosféricas. Escritas pelo polêmico Erik Satie que você com certeza já ouviu.
Publicadas em Paris a partir de 1888, as peças compartilham um tema e uma estrutura comum. Coletivamente, elas são consideradas precursoras da música ambiente – que Satie chamava de musique d’ameublement, a música que preenchia o ambiente.
Para Satie, essa música deveria fazer parte dos ruídos naturais, sem se impor, tomando por base os estranhos silêncios que ocasionalmente caíam sobre os convidados, neutralizando os ruídos da rua. Mas, na época, isso tudo parecia até mesmo uma piada e as pessoas insistiam em ficar quietas prestando atenção na performance.
Erik Satie então gritava nervoso:
“Falem alguma coisa! Mexam-se! Não fiquem aí parados só escutando!”
As Gymnopédies são peças calmas e excêntricas. Ao compor este conjunto de obras, Satie desafiou a tradição clássica, usando dissonâncias deliberadas contra a harmonia e produzindo um efeito melancólico que combina com as instruções de execução, que são tocar cada peça lentamente e dolorosamente.

O título Gymnopédie é tido como derivado do antigo Festival Grego Gymnopadia, dedicado ao Deus Apolo, no qual jovens nus dançavam ao som da flauta e da lira.
A música de Satie foi, em seu tempo, apreciada por poucos e desprezada pela maioria dos compositores e críticos musicais. Diversas fragilidades eram apontadas, como por exemplo, a deficiência na formação enquanto compositor e pianista. Diziam que as suas miniaturas musicais com escalas pouco convencionais, harmonias estranhas e uma total ausência de virtuosismo instrumental eram apenas o reflexo de um compositor de fracos recursos técnicos.
Embora o excêntrico compositor fosse duramente criticado pela academia, era admirado por personalidades como Maurice Ravel (1875-1937), Claude Debussy (1862-1918) e Pablo Picasso (1881-1973).

Segundo o pintor espanhol:
“Satie foi uma das mais importantes influências em minha vida”
Pablo Picasso
Erik Satie compôs uma música inovadora e original, incorporando em suas obras títulos bem humorados e sons extravagantes como: “máquina de escrever”, “sirene e tiro de pistola”, o que era objeto de grande escândalo.O irreverente e excêntrico Satie media 1,67 metros, sendo famoso por possuir doze ternos idênticos, cinza de veludo, e fazia coleção de guarda-chuvas e cachecóis. Além destas particularidades ainda detestava sol e tinha a estranha mania de comida branca como: arroz, ovo, coco, peixe, nabo, queijo, entre outras.
Após anos de vida boemia, morreu de cirrose em 1 de julho de 1925. Além de compor também escrevia e fazia caricaturas, inclusive dele mesmo.
Ouviremos as famosas “Trois Gymnopédies” (1888), interpretadas pela pianista francesa Anne Queffélec (1948).
Observe à calma e excentricidade das “Trois Gymnopédies” de Erik Satie.