No último dia 16 de dezembro, a música brasileira despedindo-se de um dos últimos pilares da bossa nova, Carlos Lyra. Nascido em 11 de maio de 1933, Lyra foi uma figura emblemática na história da música, desempenhando um papel fundamental nos primórdios da bossa nova. Sua carreira, que abrange quase sete décadas, testemunhou sua participação ativa nos encontros musicais da Zona Sul do Rio de Janeiro ao lado de nomes como Nara Leão, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Sérgio Ricardo. Seu legado, um acervo de 20 álbuns e uma coletâneade  inéditas lançado em 2019: “Além da Bossa”, solidifica sua posição como um dos grandes expoentes da Música Popular Brasileira.

Carlos Lyra, ao longo de sua notável carreira, resistiu bravamente à tentativa de ser rotulado meramente como um bossa-novista. Para ele, a essência residia no samba, e em certo momento desafiou os filósofos da USP que tentavam monopolizar a interpretação da bossa nova. Para Lyra:

“A bossa nova não era apenas um movimento mercadológico, mas uma ponte entre o samba sincopado e o samba-choro dos anos 40, moldada pelas novas harmonias de mestres como João Gilberto, Johnny Alf e Aníbal Augusto Sardinha”.

Carlos Lyra

Sua jornada musical começou em 1957, quando, em parceria com Menescal, deu vida a uma das mais belas canções românticas brasileiras, “Coisa Mais Linda”, eternizada na voz de João Gilberto em seu álbum de estreia. Ao longo dos anos, Lyra tornou-se um defensor das raízes do samba, como evidenciado em sua obra “Influência do Jazz”, magistralmente interpretada por Lenny Andrade.

O ativismo de Lyra não se limitou à música. Como fundador do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes em 1961, sua voz ecoou durante a ditadura, exilando-se nos EUA, em 1964, por conta do Golpe Militar. Em terras estadunidenses gravou com Tony Bennette fez turnê comStan Getz. Morou também no México, antes de retornar ao Brasil  definitivamente em 1976.

Lyra também esteve presente no histórico Festival de Bossa Nova, realizado no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962.

Registro do festival Bossa Nova at Carnegie Hall, em 1962, com Roberto Menescal, Ana Lúcia, o conjunto de Oscar Castro Neves, Carlos Lyra, Normando e Chico Feitosa | Foto: Dan Blaweiss/Divulgação

Nos anos 50, enquanto o Brasil se internacionalizava, a bossa nova firmava-se como um dos pilares da brasilidade, conectando-se às raízes do samba-canção e do samba-choro, ecoando por Baden Powell, Edu, Chico, Gil, Caetano, Milton e João Bosco. Carlos Lyra deixa-nos com o último suspiro de um Rio de Janeiro que já não existe, mas que reverbera eternamente em sua música imortal.

Ao relembrar seus maiores sucessos, como “Maria Ninguém”, “Coisa Mais Linda” e “Influência do Jazz”, destacamos a versatilidade desse compositor que transcendeu rótulos e enriqueceu o panorama musical brasileiro. Carlos Lyra parte, mas sua música se perpetua proporcionando uma jornada nostálgica pelos caminhos da bossa nova e além.

Ouviremos “Primavera” de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes  do DVD “Carlos Lyra. 50 Anos de Música”  com Antonio Adolfo ao piano.

Observe em “Primavera” o encontro entre letra poética e melodia sofisticada nesse exemplo bem sucedido do encontro de Lyra com o “Petinha”.