Vaticano investigou e quase suspendeu o padre Marcelo Rossi, estrela da Igreja Católica no Brasil

01 outubro 2014 às 17h49

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Em 2010, o Congregação para a Doutrina da Fé inocentou o religioso e o Vaticano concedeu-lhe o prêmio Evangelizador Moderno
A Teologia da Libertação, cujos principais apologistas no Brasil eram os irmãos Leonardo e Clodovis Boff, foi investigada durante anos pelo Vaticano. Até ser formalmente punida, disciplinada e praticamente extinta. O Vaticano deu corda, durante algum tempo, porém, ao perceber a esquerdização substituindo a evangelização, enquadrou os teólogos ditos libertários. Quem não se enquadrou, caso de Leonardo Boff, teve de deixar a Igreja Católica. O que uma reportagem do Universo Online (UOL), assinada por Ricardo Feltrin, mostra nesta semana é que a Congregação para a Doutrina da Fé, que já foi chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger — depois, papa Bento 16 —, não investiga e pune tão-somente esquerdistas. O padre brasileiro Marcelo Rossi, autor de livros e espécie de figura mais midiática da Igreja Católica no Brasil, também foi investigado longamente pelo Vaticano. Durante quase dez anos, segundo o UOL.
Por que um padre conservador e religioso ortodoxo, como Marcelo Rossi, foi investigado pelo Vaticano e quase foi punido? Porque o Vaticano tem uma linha e exige que todos os seus integrantes não saiam dela. Não importa se o padre (ou bispo) é de esquerda, de centro ou de direita. Todos devem seguir o mesmo caminho, ainda que, individualmente, pensem diferentemente uns dos outros.
Marcelo Rossi foi investigado, afirma Feltrin, porque teria adotado o culto ao personalismo, noutras palavras, estaria se comportando como se estivesse acima da Igreja Católica e de seus líderes. O padre, que usa a música e livros para conquistar novos fieis para a Igreja Católica — seria uma espécie de contraponto às igrejas evangélicas —, foi denunciado por um religioso brasileiro como “exibicionista”. Ele estaria desvirtuado as práticas católicas. Sua missa, frisou o denunciante, estaria mais próxima de uma atividade circense do que de um culto religioso. O colunista do UOL afirma que, entre as décadas de 1990 e 2000, um religioso brasileiro enviava ao Vaticano vídeos relatando a participação de Marcelo Rossi nos programas de televisão, notadamente de Gugu Liberato, do SBT, e Faustão, da Globo.
Com a investigação adiantada, o bispo dom Fernando e Marcelo Rossi quase foram convocados ao Vaticano, entre 2004 e 2005, para apresentar uma explicação sobre o suposto mau passo do padre. Feltrin sustenta, sem apresentar suas fontes, que Marcelo Rossi “esteve próximo de ter suas atividades suspensas, bem como a publicação e livros e CDs. Ele não poderia celebrar missas, ouvir confissões e dar a hóstia”.
O repórter afirma que, devido à morte do papa João Paulo 2º, em abril de 2005, Marcelo Rossi acabou não sendo punido.
Em 2009, sem apurar nada de grave contra Marcelo Rossi, a Congregação para a Doutrina da Fé — que possivelmente deve concluído que tudo não passava de intrigas paroquiais, produto de inveja e divergências primárias —, decidiu encerrar as investigações. “Ele foi inocentado de todas as falsas ‘acusações’”, escreve Feltrin.
Em 2010, o padre Marcelo Rossi finalmente foi recebido pelo papa Bento 16 — que rejeitara sua visita quando veio ao Brasil. O papa concedeu-lhe o prêmio de Evangelizador Moderno, que é dada pela Fundação São Mateus. O Vaticano parece ter entendido que a evangelização festiva de Marcelo Rossi dá mais certo que as evangelizações sisudas de outros religiosos. É um autêntico contraponto à pregação das várias correntes evangélicas.
Marcelo Rossi tem um público cativo e em processo de ampliação, que inclui de religiosos jovens a idosos, e não compromete, em nada, a doutrina hegemônica no Vaticano, nem antes nem agora. É provável que contribui, de maneira decisiva, para que não caia o número de católicos.