“Uma Escola Para a Vida”, de Muriel Spark, discute o ciúme literário
01 janeiro 2020 às 20h05
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Livro é um conto espichado ou é uma lição de como se pode escrever um romance curto com os ingredientes necessários ao gênero?
“Uma Escola Para a Vida” (Ediouro, 121 páginas, tradução de Domingos Demasi), romance curto da escocesa Muriel Spark, deve ser lido pelo menos por aqueles que são ou querem ser escritores.
A maneira suave de escrever, contando a história como se nada estivesse contando, pode sugerir, à primeira vista, que se trata de um romance (novela?) superficial. Nada menos verdadeiro.
Em “Uma Escola Para a Vida”, Muriel Spark conta a história do colégio Sunrise, onde os alunos aprendem boas maneiras e, alguns, a escrever. O Sunrise é um misto de oficina literária com curso de etiqueta.
As figuras centrais são os professores Rowland Mahler, de 29 anos, Nina Parker, de 26 anos, e o discípulo Chris Wiley, de 17 anos. Rowland escreve um romance que nunca fica pronto, ou melhor, que nunca é iniciado. Tido como brilhante, Chris escreve um romance que, mesmo sem terem lido, todos admiram e comentam. Rowland morre de ciúme do “sucesso” de Chris, quase enlouquece, pensa em matar o adversário literário e perde a mulher.
Fugindo de Chris, para não matá-lo, Rowland exila-se num mosteiro. Um dia, dirigindo uma motocicleta, Chris aparece no retiro religioso e diz que precisa do ciúme de Rowland, que, no lugar de impedi-lo de escrever, era um incentivo.
Romance pronto e lido pelo editor Monty Fergusson, descobre-se que, se havia boas ideias, não era tão bom quanto o marqueteiro Chris acreditava. O relativo fracasso de Chris possibilita que, mais tarde, Rowland publicasse o romance “A Escola Observada”.
No final, que pode ser contado, pois não se trata de um romance policial, os escritores Chris e Rowland se casam. “Uma Escola Para a Vida” é um divertido livrinho sobre o ciúme literário e sobre a paixão que parece ódio.
Paulo Francis escreveu sobre a escritora: “Nenhum escritor vivo me deu mais prazer que Muriel Spark”. O comentário de Francis, que morreu antes de Muriel Spark (1918-2006), é certamente exagerado. Mas a escocesinha é mesmo uma bela escritora. “Uma Escola Para a Vida” pode parecer um conto espichado. Talvez seja uma lição de como se pode escrever um romance curto com todos os ingredientes necessários ao gênero.
Resenha publicada no Jornal Opção na edição de 2 a 8 de julho de 2006.