TV Globo demite jornalista acusado de assédio na redação
01 julho 2021 às 18h12
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Carlos Cereto dizia que a ex-produtora do SportTV era “uma delícia” e “beijava sua mão”. Ante a resistência, era chamada de “incompetente” e “despreparada”
O Grupo Globo demitiu o jornalista Carlos Cereto, que foi chefe de redação do SportTV, entre 2012 e 2015, e, de 2016 a 2021, atuou como comentarista e apresentador do mesmo canal. Ele é acusado por uma funcionária de assédio. Ela não teve o nome revelado, por “segurança”, segundo o site Notícias da TV; o correto seria publicar por “respeito” à dignidade da mulher.
A funcionária era produtora. Carlos Cereto, segundo a denunciante e testemunha, dizia, na redação, que ela era “uma delícia” e “beijava sua mão”. Depois, fazia-a “dar uma voltinha” para mostrar seu corpo. Talvez ante a resistência da jovem, o jornalista dizia que ela “incompetente, desqualificada e despreparada”.
A profissional levou a história do assédio ao conhecimento do setor de recursos humanos — que nada fez. Por isso, ela decidiu processar a Globo e ganhou em primeira instância. A juíza Marisa Santos da Costa determinou que a Globo lhe pague “cinco salários-mínimos”. Segundo o Notícias da TV, “o valor final não é este, já que o processo ainda corre na Justiça”. A magistrada escreveu: “Estabelecidas tais premissas, arbitra-se a indenização no importe correspondente a 5 salários da autora a título de reparação pela prática de assédio durante a constância do pacto, tendo em vista a situação social e econômica da reclamada”.
A Justiça considerou que, ao se “omitir”, a Globo foi “conivente” com o suposto assediador Carlos Cereto. A empresa “nada fez para proteger sua contratada”.
O que dizem Carlos Cereto e a TV Globo
Ouvido pelo Notícias da TV, Carlos Cereto disse: “Eu fui surpreendido com este material. Eu não sou réu da ação. A TV Globo, que é a ré, é quem tem que se manifestar”. A Globo divulgou um comunicado: “A saída do jornalista foi uma decisão de gestão. Sobre as perguntas a respeito de compliance, a Globo não comenta assuntos da Ouvidoria, mas reafirma que todo relato de assédio, moral ou sexual, é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento. A Globo não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e incentiva que qualquer abuso seja denunciado. Neste sentido, mantém um canal aberto para denúncias de violação às regras do Código de Ética do Grupo Globo”.
Curioso é que a imprensa, ao relatar o caso, não especulou sobre um possível processo da vítima contra Carlos Cereto.
Relato da primeira testemunha do assédio
“Uma vez, a autora comunicou (no final de 2012) uma discussão com Carlos ao RH e a superiores dele, ocasião em que a autora foi deslocada para outra área, retornando alguns meses depois a ser novamente subordinada a Carlos, pois este passou a coordenar também a área que a autora tinha se deslocado; nessa época, o depoente não estava mais no setor; que presenciou a autora comunicando ao superior, sendo que a comunicação ao RH foi a autora que disse ao depoente; que posteriormente a autora voltou ao Arena SporTV, mas o depoente não presenciou; que Carlos já gritou com o depoente e que já reclamou aos seus superiores; que Carlos enviava mensagens para o depoente e a autora por WhatsApp, e-mail e também telefonava, em qualquer horário do dia e da noite, mas com relação às ligações o depoente não presenciou, mas presenciou os e-mails, pois recebia cópia do mesmo e-mail; que o depoente recebeu ligações de Carlos de madrugada.”
Relato da segunda testemunha do assédio
“A depoente tinha bom relacionamento profissional com Carlos Cereto, tendo sido contratada por ele; a depoente também se reportava a ele; [a testemunha também disse] que Carlos não tinha bom relacionamento com a autora, pois ele a tratava rispidamente, reclamava muito e falava em tom de voz alto, além de ser grosseiro desnecessariamente; que Carlos já chamou a autora de incompetente diversas vezes na frente de outros colegas; que a autora se sentia humilhada; que a depoente e demais colegas ficavam constrangidos com a atitude de Carlos em relação à autora; que no geral, Carlos era grosso com todos, mas em relação à autora era mais ostensivo; que presenciou a autora chorando por Carlos ter chamado a atenção dela de modo ríspido.”