Quando defende o comunismo como modelo para o mundo atual, percebe-se que a “loucura” do filósofo esloveno não é sã

O filósofo Slavoj Zizek, de 71 anos, é uma espécie de Olavo de Carvalho da esquerda? Por certo, não é.

Mas, dada a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, Slavoj Zizek apresenta-se como nostálgico do comunismo, como se o sistema articulado pela esquerda não tivesse sido um desastre total, tanto em termos de economia quanto de uma nova e positiva sociabilidade (o comunismo na União Soviética e a China matou 100 milhões de pessoas).

Mesmo assim, em “Pandemia — Covid-19 e a Reinvenção do Comunismo” (Boitempo, 136 páginas, tradução de Arthur Renzo), Slavoj Zizek tem a coragem de postular que o comunismo pode ser a maneira de se “evitar uma descida à barbárie global”. Ao dizer isto, está desconsiderando a história do comunismo no século 20 — verdadeiro sinônimo de “barbárie global”. (Observe que não fala de socialdemocracia ou de socialismo-democrático, e sim de “comunismo”.)

Slavoj Zizek

Se Slavoj Zizek não fosse tão preparado intelectualmente, o que o tornou ícone da esquerda patropi, inclusive de psicanalistas, decerto poderia ser incluído na lista dos malucos-beleza. Ele parece possuir aquela loucura sã — por vezes até agradável e divertida. Mas, quando defende o comunismo como modelo para o mundo atual, percebe-se que a loucura não é tão sã assim, não. Terá o filósofo esloveno a coragem — ou audácia — de sustentar que o assassino serial Pol Pot não era comunista?

Pelo menos há uma coisa boa: o dinheiro da venda do livro-oportunidade será revertido para a organização Médicos Sem Fronteiras. Menos mal. Mas não deixa de ser paradoxal que um livro que defende a retomada do comunismo, regime que assassinou milhões de seres humanos, tenha como objetivo salvar vidas.