Repórter do Cidade Alerta, da Record, é atacado na Cracolândia

20 julho 2024 às 11h29

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Cracolândia, centro de São Paulo, sexta-feira, 19. O repórter Marcos Guimarães, do “Cidade Alerta”, da Record, entra ao vivo e começa a falar. De repente, jogam uma garrafa de plástico em sua cabeça. O profissional estava cobrindo o confronto entre usuários de drogas e policiais. Ele informou aos telespectadores: “O clima está ficando tenso”.
Marcos Guimarães ficou inicialmente assustado, mas não fugiu do local. Nas redes sociais, ele disse: “É só tiro, porrada e garrafada, mas a gente gosta do que faz”.
Em janeiro de 2023, ao se preparar para uma entrada ao vivo, Marcos Guimarães quase foi assaltado (um jovem tentou levar seu celular). Azarado? Não. Na verdade, um repórter eficiente, que se apresenta em lugares nos quais muitos não gostariam de estar.
Sensacionalismo não entende e não explica a Cracolândia
Um dos problemas do jornalismo é como cobre a Cracolândia. Quase sempre, a Cracolândia, uma espécie de cidade, a dos deserdados de tudo ou de quase tudo, dentro de outra cidade, a dos incluídos, é divulgada de maneira sensacionalista, com o objetivo de chocar e, daí, obter audiência.
A imprensa precisa descobrir o tom para cobrir a Cracolândia. Tratar o usuário de droga como meramente “perigoso”, um ser “estranho” à dita “normalidade” dos demais, faz parte da cobertura “velha”, que não permite que o fenômeno seja compreendido. Quais são as histórias dos “moradores” da Cracolândia? O que eles têm para contar? Qual o nível de escolaridade da maioria? Quais são suas profissões e sonhos? O que é possível fazer, de maneira concreta, para ajudá-los? O que dizer das pessoas abnegadas que amparam os usuários? Seria possível criar cursos profissionalizantes diurnos e noturnos para homens e mulheres que circulam na Cracolândia?
A guerra, ou suposta guerra, entre os “habitantes” da Cracolândia — espécie de gueto dos excluídos de tudo — e policiais, que mal sabem o que fazer, ante o inusitado do enfrentamento, é coberta de maneira tradicional. O jornalismo cobre como se fosse um confronto entre mocinhos, os policiais, e bandidos, os usuários de drogas. Discussões sobre saúde pública e questões até culturais ficam de lado, ignoradas pelos repórteres e editores.