Só pode vencer Jon Jones aquele que não luta por suas regras. Glover Teixeira não seguiu a lição de Gustafsson

03 maio 2014 às 11h10
COMPARTILHAR
O peso-pesado Fabrício Werdum venceu Travis Browne porque adotou as táticas corretas. Primeiro, fustigava e fugia, para evitar o contato mais direto com um lutador maior, mais forte e nocauteador. Atuou como guerrilheiro. Segundo, “enrolou”, para a luta durar cinco rounds, com o objetivo de cansar Browne. Cansou e ganhou por pontos, mas poderia ter nocauteado, se arriscasse um pouco mais. Agora, para enfrentar Jon Jones, a tática de Werdum não funciona.
O meio-pesado Jon Jones parece incansável, quase sempre muito bem condicionado fisicamente. Para vencê-lo, o oponente tem de partir para o ataque, desde o início, e tem de escapar, rapidamente, das cotoveladas e chutes. Dada sua envergadura, isto é quase impossível.
O sueco Alexander Gustafsson deve ter examinado as lutas anteriores de Jon Jones e, com a ajuda de técnicos experientes, parece ter percebido que, quando estão no octógono contra o americano, os lutadores costumam esperar os ataques, quedando-se numa posição defensiva. É tudo o que Jon Jones quer. Gustafsson, pelo contrário, não se intimidou e, desde o começo, postou-se como atacante, surpreendendo o campeão, abrindo, digamos, suas “defesas psicológicas”. “Críticos” de MMA dizem que Gustafsson venceu, mas isto não ocorreu, porque, nos dois últimos rounds, principalmente, cansou-se e Jon Jones retomou o controle da luta. Mas, de fato, quase derrotou a maior fera do UFC. Porque, no octógono, comportou-se como se fosse um segundo Jon Jones — um “atacante”, um “guerrilheiro”.
O brasileiro Glover Teixeira é um lutador excepcional. O que fez na luta contra Jones Jones o levaria a vencer qualquer outro meio pesado, até Gustafsson e Daniel Cormier, mas não o campeão americano. Glover Teixeira, inteligente e perceptivo, deve ter estudado a luta entre Jon Jones e Gustafsson com a devida atenção, porque nesta batalha de cinco rounds acentuou-se os pontos fracos do americano — que, sob ataque intensivo, não desmoronou, mas ficou abalado e “entrou” no jogo do adversário.
Porém, se a estudou, se aprendeu um ou dois segredos sobre Jon Jones, não pôs em prática a lição na luta recente. Por quê? Glover Teixeira tem orientadores do primeiro time, como Chuck Liddell, mas, no octógono, a prática reformula a teoria.
Como Jon Jones parecia mais motivado do que na luta anterior — mais “mordido”, quem sabe —, o que se viu foi um Glover Teixeira na defensiva, uma espécie de anti-Gustafsson. O americano atacava e o brasileiro se defendia. Foi assim praticamente durante os cinco rounds.
Glover Teixeira e Jon Jones estavam bem fisicamente. Se o brasileiro não fosse forte, teria sido nocauteado. O que vai acontecer daqui pra frente? Como é capaz de limpar a área — derrotando Anthony Johnson, Daniel Cormier e mesmo Gustafsson (que certamente perderá para Jon Jones) —, Glover Teixeira possivelmente lutará mais uma vez com Jon Jones. Mas precisará se movimentar mais, para não se tornar um alvo fixo, um saco de pancadas, para lutadores mais ágeis. Sobretudo, precisará entender, no octógono, que não pode lutar segundo as “regras” de Jon Jones. É vital desconcertar, para desconcentrar, o duríssimo americano.