A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles.

O trecho acima é do chamado “paradoxo da tolerância”, estabelecido pelo filósofo Karl Popper no volume 1 do livro The Open Society and Its Enemies (ou A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, em português) em 1945, ano em que o mundo comemorava o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do nazismo. Portanto, não é por acaso que ele tenha sido enunciado pelo pensador exatamente nessa conjuntura.

O mundo vive uma nova onda de extrema direita, talvez como nunca tenha havido desde o período entre-guerras do século passado. O Brasil acaba de vencer uma tentativa de golpe de Estado a qual – conforme fica cada vez mais claro – visava fazer com que o regime autoritário e reacionário que assumiu o poder em 2019 continuasse no poder, mesmo derrotado nas urnas.

Na semana passada, o youtuber Bruno Aiub, o Monark, o mesmo que defendeu a existência no Brasil de um partido nazista, desabafou contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, se dizendo perseguido por ele a ponto de ter sido suspenso pela plataforma Rumble, pressionada pela multa milionária que receberia se Monark continuasse a produzir seu conteúdo.

A queixa de Monark é de “censura prévia”. De fato, não dá para ter certeza sobre o que alguém dirá até que tenha sido dito. E é escorado nessa “muleta” que, dia após dia, mesmo depois de perder a parceria no canal Flow – justamente após defender partido nazista – e sofrer outros prejuízos, ele continuou a produzir, na nova plataforma, farto matéria de notícias falsas e de conceitos distorcidos, voltado a reforçar sua ligação e engajamento com grupos de extrema direita.

O que Alexandre de Moraes tem feito é controverso, gera polêmicas, mas encontra respaldo no princípio de Popper: para obedecer de fato a Constituição, não dá para ter tolerância com aquilo e aqueles que buscam solapar a democracia implantando a dúvida onde existe a ciência, como no caso das urnas eletrônicas e da vacina.

A desinformação é um dos maiores males, senão o maior, destes tempos. É por meio dos diversos canais que a propagam que tragédias vão se construindo, como foi o caso da defesa ardorosa do uso da cloroquina contra a Covid-19, que agravou a crise pandêmica e causou o aumento do número potencial de vítimas da doença.

Monark tenta posar como perseguido, mas ele sabe muito bem como tem, de sua parte, conduzido essa história para que produza exatamente essa consequência. Ninguém o impede de trabalhar; o que a Justiça está fazendo é impedi-lo de cometer crimes usando a liberdade de expressão como escudo.