O general Castello Branco comandou a derrubada do presidente João Goulart, entre 31 de março e 1º de abril de 1964, e, em 26 de novembro do mesmo ano, operou a retirada de Mauro Borges, do PSD, do governo de Goiás. Eram amigos e, apesar das pressões da linha dura do general Costa e Silva, tentou protegê-lo. Mas Castello Branco optou por ficar com os militares e afastou o líder goiano.

A reportagem “Há 50 anos, Mauro era deposto”, de Sara Queiroz, jornalista do “Pop” (quarta-feira, 26), é confusa e contém pelo menos três erros. Diz que “Castelo” Branco era coronel. Era general (marechal) e a grafia correta do nome é Castello. Pelas regras estabelecidas pela cúpula das Forças Armadas, o presidente precisava ser general, não podia ser coronel. O nome é Almir Turisco, não “Turísco” (não tem acento), vice-governador do marechal Ribas Júnior.

Há um trecho confuso: “Algumas semanas depois [da queda] os apoiadores negociaram a retirada das acusações criminais contra Mauro na própria Assembleia em troca do então presidente da Casa, Iris Rezende, não se tornar o governador nos anos restantes”. Será que a repórter crê mesmo que os militares, ao derrubar um político que era coronel do Exército, iriam permitir que outro civil, de matiz populista, assumisse o poder? Não deve acreditar. Talvez saiba que, para evitar que Iris Rezende disputasse o governo adiante, decidiram cassá-lo.

Numa entrevista a Renato Dias, do “Diário da Manhã”, o presidente da Associação dos Anistiados de Goiás (Anigo), Marcantonio Dela Côrte, assinala: “Mauro Borges tentou entrar para a história como vítima do golpe de 1964, mas ele apoiou os militares e queria permanecer no poder”. No artigo “Por Goiás, pelo Brasil”, Mauro Borges Teixeira Neto, num texto respeitoso mas incisivo, contesta Dela Côrte.

Mas é fato que, depois de ter apoiado a posse de João Goulart, em 1961, Mauro Borges passou a se opor ao presidente, se aliou aos militares e apoiou o golpe de 1964, que deve ser considerado civil-militar. Como não deixou o governo, em abril de 64, e nem ameaçou renunciar depois, antes conquistando um habeas corpus para tentar manter-se no poder, é plausível, como sublinha Dela Côrte, que Mauro Borges queria continuar, apesar do regime militar.

Um trecho da fala de Dela Côrte — “Mauro tentou entrar para a história como vítima do golpe de 1964” — é interessantíssimo e merece, de fato, uma discussão mais ampla. Talvez, no lugar de golpe, fosse menos impreciso sugerir “regime civil-militar” ou “ditadura civil-militar”. Da ditadura, mas não do golpe em si, foi mesmo “vítima”. Foi cassado.

O apoio ao golpe não diminui a estatura de Mauro Borges como político e gestor. Ele ficará na história como o administrador que, no estilo de Getúlio Vargas, trabalhou para organizar o Estado, para criar mecanismos públicos de incentivo ao crescimento econômico e ao desenvolvimento. Era um político excepcional, mas, de fato, apoiou o golpe de 64 e só “contestou” os militares depois de afastado.