Morre Carlos Leonam, jornalista, “conde” de Ipanema e criador da expressão esquerda festiva

25 abril 2024 às 19h44

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O jornalista Carlos Leonam morreu na quinta-feira, 25, no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Estava internado na Casa de Saúde São José devido a uma pneumonia bacteriana.
No livro “Ela é Carioca — Uma Enciclopédia de Ipanema” (Companhia das Letras, 592 páginas), Ruy Castro escreve: “Alô, Aurélio: urge dar a Carlos Leonam o crédito de inventor da expressão esquerda festiva. A data: verão de 1963, pouco antes do Carnaval. Local: o Bar Bem, um botequim de São Conrado. Eram os atribulados anos João Goulart e os jornais se ocupavam da divisão das esquerdas brasileira em ‘positiva’ e ‘negativa, proposta por San Tiago Dantas, ministro da Fazenda de Jango”.

De acordo com Ruy Castro, “a festiva é a única esquerda impossível de ser derrotada. Não importa a situação, seus únicos compromissos são com seus ideais e sua alegria”.
O ex-neologismo “colunável” é de autoria de Carlos Leonan e Fernando Zerlottini — criado em 1974. Saiu na imprensa pela primeira vez na coluna “Carlos Swann”, assinada pelo jornalista, em “O Globo”, de 1974 a 1984.
Carlos Leonam foi colunista do “Jornal do Brasil” e “O Globo”. Seus parceiros de coluna eram Fernando Zerlottini e a escritora Marina Colasanti.
A coluna “Carioca quase sempre” era publicada no “Caderno B”, do então célebre “JB”, entre 1967 e 1968. Seus parças eram Marina Colasanti e Yllen Kerr.

As deusas de Ipanema, como Leila Diniz e Ionita Salles Pinto, eram amigas de Carlos Leonam. Segundo Ruy Castro, que é o biógrafo quase-oficial de “Ipanema”, só eram amigas. O jornalista e fotógrafo apaixonava-se pelas divas, mas, aparentemente, não era correspondido. Faltava sex appeal?
Numa reportagem publicada na quinta-feira, 25, sob o título de “Morre o jornalista Carlos Leonam, ‘inventor’ do ritual de aplaudir o pôr do sol em Ipanema, aos 84 anos”, “O Globo” informa que Carlos Leonam trabalhou nas revistas “O Cruzeiro”, “Veja” e “CartaCapital” e nos jornais “Última Hora”, “Tribuna da Imprensa”, “Jornal do Brasil” e “O Globo”.
Com uma foto do astronauta soviético Yúri Gagarin, no Alto da Boa Vista, Carlos Leonam ganhou o Prêmio Esso.
Textos de Carlos Leonam, publicados entre 1960 e 1990, saíram no livro “Os Degraus de Ipanema”.

No Rio, há o hábito de se aplaudir o pôr do sol na Praia de Ipanema. Trata-se de mais uma criação de Carlos Leonam.
Pode ser uma coisa boba, certamente é, mas os cariocas não acham. Eis o relato do jornalista e escritor Zuenir Ventura: “A cerimônia se repete todo dia. Quando o sol acaba de cumprir o seu trajeto habitual e desaparece lá pelos lados do Vidigal, os banhistas da Zona Sul se levantam da areia e aplaudem de pé. Os moradores já estão acostumados com o ritual.
Zuenir Ventura, o Mestre Zu, acrescenta: “De casa ouço o barulho das palmas, dos assovios, de gritos e exclamações que se espalham pela Praia de Ipanema entre 19h30 e 19h45. São jovens que não eram nascidos no verão de 68/69, quando o costume foi lançado num ‘dia de exportação’, como se dizia”.
“Diante de um pôr do sol como esses de agora, o jornalista Carlos Leonam não se conformou: ‘Essa tarde merece uma salva de palmas!’. Imediatamente, o grupo em que estava na altura do Posto 9 — Glauber Rocha, Jô Soares, João Saldanha, entre outros — deu início aos aplausos. Depois, o publicitário Roberto Duailibi consagrou a cena, recriando-a num comercial de bronzeador para a televisão. A cidade que, segundo Nelson Rodrigues, vaiava até minuto de silêncio era capaz, também, de aplaudir o entardecer”, conta Zuenir Ventura.
O jornalista e escritor Edney Silvestre disse ao “Globo” que, “em suas colunas sociais, Leonam foi o inventor dos/das socialites e o maior propagador do mito de Ipanema”.
Edney Silvestre relata que, na década de 1960 — não se precisa o dia —, Carlos Leonam circulou, no seu Fusca, com a deusa do cinema Claudia Cardinale. Reza a lenda que faltou babador na cidade. O jornalista classifica a musa do filme “O Leopardo”, do conde Luchino Visconti, e de “Era Uma Vez no Oeste”, de Sergio Leone, como “a segunda italiana mais sexy e mais bela da história”.
Não se informa qual é a primeira mais sexy, mas presumo que seja Sophia Loren. O julgamento “machólatra” de Edney Silvestre ignora que, no caso das duas belas, não há segundo lugar. Só primeiro. Trata-se de um empate técnico que nem Deus teria condições de desempatar.
O jornalista e biógrafo (do bons) Joaquim Ferreira dos Santos assinala: “Sempre teve texto muito bom e era muito bem-informado”.
Carlos Leonam era torcedor do Fluminense — o que é mérito, pois também sou (ainda que seja mais admirador do Santos). Ele é um dos fundadores da torcida Jovem Flu, com o apoio de Nelson Motta, Chico Buarque, Hugo Carvana e Elis Regina.
Homem das mil atividades, Carlos Leonam foi editor-executivo do cine-jornal “Canal 100” (sobre futebol) e codiretor do documentário “Futebol Total” e corroterista de “Brasil Bom de Bola 78”. O filme “O Fabuloso Fittipaldi”, de Hector Babenco e Roberto Farias, contou com a assistência do jornalista.
Carlos Leonam chegou a atuar, como coadjuvante dos coadjuvantes, nos filmes “Garota de Ipanema”, de Leon Hirszman, e “Bar Esperança”, de Hugo Carvana.
Agora, com a morte de Carlos Leonam, pode-se nomeá-lo como “conde” de Ipanema. Ele faz de um tipo de aristocracia — a das Almas ou do Espírito, por assim dizer.