O escritor, depois de reconquistar a cidadania tcheca, reconciliou-se com seu país. Mas vai continuar morando na França

O “Clarín”, jornal argentino, diz que Milan Kundera é “considerado o escritor tcheco mais famoso depois de Franz Kafka”. Mas, quando comunista, a Tchecoslováquia (hoje, dois países: Eslováquia e República Tcheca) praticamente o expurgou, acabando por retirar-lhe a cidadania. O escritor mudou-se para a França e se tornou cidadão francês. Agora, aos 91 anos, doou sua biblioteca e seu arquivo para sua cidade natal, Brno. O anúncio foi feito pelo ministro da Cultura do país da Europa Central, Lubomír Zaorálek.

“O material bibliográfico — que inclui a obra de Kundera em mais de quarenta idiomas, assim como artigos, resenhas e análises metódicas de seus livros — serão levados para Brno, na República Tcheca, no próximo verão”, informa reportagem da EFE e “La Vanguardia”.

Milan Kundera: escritor tcheco radicado na França | Foto: Reprodução

A República Tcheca restituiu a cidadania a Milan Kundera, recentemente, o que agradou o escritor, autor de “A Insustentável Leveza do Ser” (o romance só foi publicado na pátria natal do escritor em 2006), “A Brincadeira”, “Risíveis Amores”, “O Livro do Riso e do Esquecimento” e “A Imortalidade” (um de seus mais belos livros. Há partes de raro esplendor, como o encontro entre Goethe e Napoleão e o encontro entre o poeta alemão e Hemingway, fictício, claro, porque, quando o autor americano nasceu, o alemão já estava morto).

O ministro Zaorálek sugere que a decisão de Milan Kundera, ao doar livros e seus arquivos, é uma prova de que está em “reconciliado” com seu país. De alguma forma, é como se o escritor estivesse voltando, não física mas espiritualmente, à terra pátria.

A Biblioteca Provincial da Morávia passará a ter uma seção chamada de “Biblioteca de Milan Kundera”. Todo o material ficará “à disposição do público e dos pesquisadores para estudo e pesquisa”, informa Radoslav Pospíchal, membro da diretoria da biblioteca. “Parte do material doado é um arquivo exclusivo que contém artigos escritos por Milan Kundera, artigos sobre ele, críticas de seus livros recolhidas durante anos por suas editoras aqui [presume-se que na República Tcheca] e no estrangeiro, muitos recortes de jornais, fotografias autorizadas e desenhos feitos pelo próprio Kundera”, firma o diretor. “A obra estará acessível ‘sobretudo de modo digital’”, acrescenta.

Milan Kundera vai continuar morando na França.