Luigi Pirandello sugere que riso pode ser antídoto contra o fascismo

22 novembro 2023 às 19h38

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Sabe esses dias em você não tem fome, mas precisa pôr alguma coisa na pança?
Na segunda-feira, 20, caminhei em direção ao Restaurante Grego (Praça da Nova Suíça, em Goiânia) — que, de grego, só tem o nome —, mas, no meio do caminho, estava o sebo-papelaria Armazém do Livro, onde compro canetas e algumas cositas.
Paro numa estante e começo a folhear alguns livros. De repente, acho “Uma Jornada — Novelas Para um Ano” (Berlendis e Vertecchia, 119 páginas), de Luigi Pirandello (1867-1936), o escritor e dramaturgo italiano. Minhas pupilas alargam-se, de maneira empática, quando leio o nome do tradutor — Mauricio Santana Dias (ótima ponte para nós, brazucas, e a literatura italiana).

Em pé, com a coluna reclamando — as hérnias estão no ataque —, leio parte da ótima apresentação. Compro dois marca-textos (líquidos) e o livro com histórias curtas. Almoço rapidamente (meus tempos de amante da macrobiótica ficaram no passado remoto) e, enquanto faço o quilo — ou quimo, sabe-se lá —, termino de ler a apresentação e leio a novelinha.
Maurício Santana Dias chama atenção para uma novela — quem sabe, um conto — a respeito de um encontro de fascistas.
Durante a reunião, solene, uma pessoa começa a rir, alto. Uma adolescente é responsável pela quebra do ritual dos patetas da direita de Benito Mussolini.

Em seguida, o irmão adere ao riso desenfreado. O pai dos jovens também ri, à larga.
Os fascistas ficam espantados com o riso desabrido do trio — que desmoralizou a reunião que, talvez laica, era também religiosa.
De repente, eu também ri, ainda que não de maneira contagiante. Quanto levantei a cabeça, meio constrangido, uma mulher me olhava, com a cara fechada, como se me reprovasse. Deve ter pensado: o sujeito enlouqueceu e está rindo sozinho.
Quando fui ao caixa, a mulher me aborda: “Do que o sr. estava rindo?” Eu disse: “Da história do livro de Pirandello, que ganhou o Nobel de Literatura de 1934”. “Ah, bom, que dizer que o sr. não é maluco?!” Talvez seja um pouquinho, não é? Aí foi a vez de ela rir.