A argentina Victoria Ocampo (1890-1979) criou a revista “Sur” e a Editora Sur e manteve contato com intelectuais e escritores de vários países — publicando seus livros e divulgando suas literaturas. Foi amiga de Virginia Woolf, Jean Cocteau e amante de Pierre Drieu la Rochelle. O poeta, dramaturgo, prosador e ensaista indiano (bengali) Rabindranath Tagore (1861-1941), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2013, se tornou seu amigo por toda a vida.

Aos 63 anos, em novembro de 1924, Tagore decidiu visitar o Peru, em busca das antigas civilizações do país. “Foi um incansável renovador e experimentalista, praticou e enriqueceu todos os gêneros literários”, diz Eduardo Paz Leston no prólogo do livro “Un Encuentro Fecundo — Rabindranath Tagore y Victoria Ocampo” (Sur, 767 páginas, tradução de María Julia de Ruschi), de Ketaki Kushari Dyson, doutora por Oxford.

Porém, ao chegar ao Rio de Janeiro, contraiu gripe. Em Buenos Aires, os médicos recomendaram que “não cruzasse os Andes devido aos seus problemas cardíacos”. Hospedado no Hotel Plaza, Tagore recebeu a visita de Victoria Ocampo, então com 34 anos. Decidida, a jovem mecenas vendeu uma tiara de diamantes e alugou uma quinta para Tagore e seu secretário, Leonard Elmhirst.

Clima erótico entre Victoria e Tagore?

No sítio de Miralrío, rolou algum relacionamento erótico entre Victoria Ocampo e Tagore? Eduardo Paz Leston e Ketaki Kushari dizem que sim, ao contrário das biógrafas Laura Ayerza de Castilho e Odile Felgine, que, no livro “Victoria Ocampo” (Circe, 341 páginas, tradução de Roser Berdagué), sugerem que havia um relacionamento espiritual.

Ketaki Kushari Dyson: pesquisadora indiana | Foto: Reprodução

A pesquisadora indiana escreve: “Se não houvesse amor entre eles, duvido que um teria inspirado o outro para fazer coisas interessantes. Se o amor de Victoria Ocampo por Tagore tivesse sido inteiramente espiritual, por que ela gostava tão intensamente de ficar próxima de Tagore, vê-lo, ouvir sua voz, como ela mesma o disse? Se o amava tão espiritualmente, bastava ler seus livros, só tinha de aprender bengali e começar a estudar suas obras de modo sistemático”.

Ketaki Kushari sublinha que Victoria Ocampo era “intensamente carnal”, mas também “buscava intensamente uma dimensão espiritual”. “Talvez seja a origem de sua personalidade atormentada”, sugere Eduardo Paz Leston.

Tagore traduziu seu poema “Asanka”, do bengali para o inglês, e, ao recebê-lo, Victoria Ocampo escreveu-lhe: “Você é para mim o que o céu é para você”. Tagore parece ter entendido que a argentina havia se apaixonado por ele e disse ao secretário que seria melhor cair fora.

Rabindranath Tagore e Victória Ocampo, na Argentina, na década de 1920 | Foto: Reprodução

Depois, numa carta a Elmihirst, lamentou ter se distanciado de Victoria Ocampo, que chamava de “Vijaya”. Victoria Ocampo amava a Índia de Gandhi e Tagore.

Ketaki Kushari assinala que o encontro com Tagore foi o começo de um processo que ampliou os horizontes de Victoria Ocampo.

Seguindo o roteiro de Ketaki Kushari, Eduardo Paz Leston afirma que Victoria Ocampo também foi importante para Tagore.

Primeiro, porque, triste por causa da morte de sua filha mais velha, Tagore havia praticamente parado de escrever poemas. Na Argentina, possivelmente por causa da intensa Victoria Ocampo, voltou a escrever poesia. Chegou a dedicar o livro de poemas “Purabi” para a escritora-editora portenha.

Segundo, incentivado por Victoria Ocampo, Tagore começou sua carreira de pintor na Argentina. Mais tarde, com o apoio da amiga argentina, chegou a vender muitos quadros.