O poeta chileno cantou o amor de maneira dilacerada, mas decidiu não dar nenhum apoio à filha doente

Malva Marina, a filha que o poeta Pablo Neruda abandonou e não quis ajudar, morreu aos 8 anos, numa cidade da Holanda
Os poetas cantam o amor, o real e o imaginário, de maneira extraordinária. Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, conhecido como Pablo Neruda (1904-1973), Prêmio Nobel de Literatura de 1971, celebrou-o como poucos. Seus poemas líricos o imortalizaram mais do que os engajados. Mas, como ninguém é perfeito e às vezes se tem um lado “m” — de, vá lá, “malvado” —, o bardo chileno “escondeu” uma história (e um comportamento), por assim dizer, nada lírica e constrangedora. Dirão, por certo: sua poesia ficará menor. Não. A poesia continua poderosa, ainda que às vezes “aguada” e palavrosa (nada comparável à magnífica poesia do maior poeta chileno, Vicente Huidobro), mas o cidadão se torna problemático — menos Deus e mais humano — e nada admirável. Há mesmo uma dissintonia entre o que se diz — o que se escreve — e o que se faz? No caso, sim.
A escritora holandesa Hagar Peeters descobriu a história de Malva Marina Trinidad Reyes Basoalto, uma menina que morreu aos 8 anos, e decidiu escrever um romance para revelar sua existência. “Malva” (Rey Naranjo, 240 páginas, tradução de Isabel Clara Lorda Vidal) saiu na Espanha, em fevereiro deste ano, e atraiu a atenção da imprensa. Porque é o registro da história da filha que Pablo Neruda abandonou e com a qual não quis nenhum contato. Não há previsão de lançamento do livro no Brasil.
O que se lerá a seguir é uma síntese da resenha “La higa madrilena a la que Pablo Neruda abandono y llamaba ‘vampiresa de 3 kilos’”, de Paco Rego, do jornal espanhol “El Mundo”. A história de Malva Marina ficou “escondida” durante 84 anos. Havia anotações, aqui e ali, mas nada tão forte quanto o livro de Hagar Peeters.

Livro conta a história da menina Malva Marina, que, com hidrocefalia, passou fome na Holanda e morreu criança
A escritora assinala que Pablo Neruda, além de ocultar a história, rejeitou Malva Marina, porque ela tinha hidrocefalia.
A bela Maria Hagenaar Vogelzang — Maruca (a Javanesa) — e Pablo Neruda se casaram em Java (o poeta era cônsul do Chile na ilha), em 1930. Foi sua primeira mulher. Aproveitavam a juventude e estavam apaixonados. Quando Pablo Neruda teve de voltar para seu país, participando ativamente de farras com os amigos, Maruca rebela-se e, para não perdê-la, o poeta convence amigos influentes do governo a enviá-lo para Madri. Aí, dadas sua poética e sua capacidade de reunir novos amigos, se torna uma estrela do mundo cultural. Convive com prosadores, poetas, filósofos, artistas plásticos, cientistas, arquitetos. A vanguarda artística e científica europeia passa pela Espanha.
Promovido a cônsul geral, Pablo Neruda e Maruca vivem uma vida glamorosa, cercados da nata cultural da sociedade espanhola e europeia. O poeta organizava tertúlias constantes em sua casa. Entre os frequentadores estavam Federico García Lorca, Rafael Alberti e Vicente Aleixandre.
Homem do mundo, charmoso, poeta admirado, Pablo Neruda era mulherengo (Fernando Lizama Murphy sugere que o vate “padecia de satiríase” — desejo sexual exarcebado). Mas esperava-se que o nascimento de Malva Marina unisse mais o casal, que se amava. Porém a menina “nasceu com uma cabeça desproporcional, fruto de uma hidrocefalia que anunciava uma morte prematura, irremediável”. Depois de visitá-la, o poeta Vicente Aleixandre, amigo de Pablo Neruda, escreveu: “Uma criatura à qual não se podia olhar sem dor”. Maruca e Pablo Neruda moravam na Casa das Flores, residência arranjada por Rafael Alberti.
García Lorca saudou a menina: “Delfín de amor sobre las viejas olas,/Cuando el vals de tu América destila/Veneno y sangre de mortal paloma/Niñita de Madrid, Malva Marina,/No quiero darte flor nui caracola;/Ramo de sal y amor, celeste lumbre,/Pongo pensando en ti sobre tu boca”.
Inicialmente, Pablo Neruda parecia não ter consciência da “gravidade da enfermidade de sua filha”. Quando nasceu, firmou que a menina era “uma maravilha”. Vicente Aleixandre ouviu o poeta dizer: “Malva Marina, me vê? Vem, Vicente, vem! Olha que maravilha. Minha menina. A mais bonita do mundo”. Depois, o autor de “Confesso Que Vivi” procurou ocultar Malva Marina. “É um ser perfeitamente ridículo”, disse, contrafeito, a amigos. Em seguida, tachou-a de “vampiresa de três quilos” e a abandonou. “Custa aceitar que do autor de ‘Cem Sonetos de Amor’ nasceram tais palavras”, afirma Paco Rego. Sobre Maruca, Pablo Neruda escreveu: “Era uma mulher alta [superava 1,80m] e suave, avessa totalmente ao mundo das artes e letras”. Ao contrário do marido, não apreciava festas e boemia.

Maria Hagenaar Vogelzang, a Maruca, com Pablo Neruda: a Javanesa foi abandonada à míngua pelo poeta. Chileno ganhou o Nobel de Literatura
Ao se afastar de Malva Marina, que avaliava como um ser estúpido, Pablo Neruda acabou se desligando de Maruca. Ele dizia que a menina não dormia e era incômoda. Logo iniciou um relacionamento com a argentina Delia del Carril, La Hormiguita. Em 1936, deixa a mulher e a filha definitivamente e vai morar com Delia del Carril.
Pablo Neruda deixa Maruca e Malva quase sem dinheiro em Montecarlo, para onde havia fugido da Guerra Civil Espanhola. “Maruca cruza toda a França com sua filha enferma, até chegar a Holanda, onde se instala na cidade de Gouda. Mãe e filha passam fome. Maruca vive em pensões e trabalha no que encontra. Sua menina fica aos cuidados de uma família cristã. Suplica a Neruda que lhe mande dinheiro para poder dar comida à filha”, relata o jornalista de “El Mundo”. “Gastei meu último centavo enviando a carta”, lamenta Maruca.
A filha esquecida de Pablo Neruda morreu em 2 de março de 1943, em Gouda, onde está enterrada. Maruca avisou o poeta, por intermédio do consulado do Chile em Haya, sobre a morte da criança, mas o homem que cantou o amor de maneira tão linda e delicada “respondeu-lhe” com o silêncio. Na prática, tudo indica, a teoria é outra.
Poemas de Pablo Neruda sobre o amor
1
Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.
2
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
Não confundas o artista com sua arte. O artista não é um santo, é humano como todos, só isso.
e isso é ser humano??? isso é ser um verme!
Que triste! Filhos não se abandona jamais!
EXACERBADO
Humaníssima abordagem de um fato inusitado. Que lástima ! mas facetas do comunista-poeta-contraditório em muitos outros aspectos da vida. Cada vez mais vai me fazer desgostar de uma poesia que apreciei na juventude…
Não podemos abandonar a obra do poeta, esquecer a arte que ele fez. Não confundir o arte com o artista.
Não entendo essa de não confundir a arte com o artista. Para mim a arte é a expressão do artista, expressão do que sente, como então esse artista expressa o amor de uma forma tão bela? é fantasia da cabeça dele? Legal então, ele sabe dizer coisas bonitas mas não sabe sentir nem ao menos compaixão pela sua filhinha pequena que passa fome??? Esse nunca soube o que é realmente o amor…
O poeta de palavras melodiosas e apaixonantes que não praticou com a filha o que escrevia. Triste!
Podre, maldito, espero que esteja ardendo no fogo do inferno, poeta imbecil, canalha, nunca foi homem. Um desgraçado e quem o defende também. Maldito 1000 vezes.
O que falta é realidade e coerência entre o que ele escreveu e o que realmente era.
Como homem, um canalha. Como poeta, um esplendor. São duas faces da mesma moeda humana.
Nao gostei nem como poeta e muito menos como homem!!Péssimo!
Era um grande poeta e a filha era o poema que ele não soube escrever. K
Quando é que se pensa que comunista tem sentimentos? Na verdade era um ser odioso. Abandonou mulher e filha! Ainda bem que nunca gostei desse que dizem ser poeta do amor.
Nao posso ler um poema de amor de um monstro.
Quem pratica uma maldade desta não tem moral para escrever sobre amor.
De que valem belas palavras e um nobel se não soube amar.
Nunca gostei de suas poesias. Era um acumulador compulsivo que se negava a limpar sua casa. Sua autobiografia é arrogante. Agora essa é a prova final de sua mãe imbecilidade