“Não entendo vocês. Na minha terra, o major Apollo teria recebido as homenagens, o respeito e a gratidão de seu povo”, disse oficial americano

A Segunda Guerra Mundial começou no início de setembro de 1939 – quando a Alemanha de Adolf Hitler invadiu a Polônia, arrastando a Inglaterra e a França para a batalha. O presidente do Brasil, Getúlio Vargas, governava sob uma ditadura implacável e tinha simpatia tanto pelo nazismo de Hitler quanto pelo fascismo de Mussolini. Entretanto, negociador hábil, o brasileiro acabou aderindo aos Aliados, depois de vantagens oferecidas pelos Estados Unidos. Em 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha – secundando o governo do presidente americano Franklin D. Roosevelt.

Em 1944, quando a guerra estava em seu momento mais quente – pôde-se perceber, enfim, que era possível derrotar a potência alemã –, numa parceria estabelecida com os Estados Unidos, o governo brasileiro mandou milhares de soldados e oficiais (25 mil pessoas) para lutar contra o nazifascismo. Os brasileiros lutaram bravamente na Itália, enfrentando condições adversas, inclusive climáticas, e deram tudo de si. Os militares ganharam elogios oficiais do governo dos Estados Unidos pela bravura. Eles contribuíram para a vitória da democracia na Europa e, claro, no mundo. Livro do historiador Cesar Campiani Maximiano, “Barbudos, Sujos e Fatigados – Soldados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial” (Grua, 448 páginas), informa que 111 goianos lutaram na Itália. Um deles, o coronel Aguinaldo Caiado (nasceu no Rio de Janeiro, mas era filho de goianos; o pai, senador, e a mãe moravam no Rio), foi decisivo na tomada de Monte Castello. Aguinaldo Caiado, por sinal, é elogiado, em documentos oficiais, por generais americanos, inclusive Eisenhower. Os documentos estão publicados num livro editados pela família. O goiano Aldemar Ferrugem levou um tiro e morreu na Itália.

A história dos brasileiros na Itália é heroica e isto deve ser dito com todas as letras. No geral, porém, os pracinhas, ao voltarem, depois dos salamaleques habituais, foram esquecidos. Mais tarde, talvez devido à ditadura de 1964, que perdurou até 1985, militares ficaram com a imagem de “truculentos” e talvez por isso os pracinhas tenham sido esquecidos, inclusive pelo mundo acadêmico. Frise-se que há acadêmicos seriíssimos que vêm escrevendo sobre o assunto, como Dennison Oliveira e Francisco Ferraz, de maneira rigorosa e, ao mesmo tempo, respeitosa. Aos poucos, começam a surgir biografias de soldados e oficiais que lutaram contra os alemães (muitos deles militares experimentados que haviam sido retirados do front soviético) – possibilitando melhor compreensão sobre os brasileiros que batalharam, na Europa, pela democracia universal.

O mais recente livro é “Major Apollo – O Herói Esquecido: O Mais Condecorado Herói Brasileiro da Segunda Guerra Mundial” (Clube dos Autores, 242 páginas), de Luiz Mergulhão. O livro pode ser adquirido no site das livrarias Cultura e Amazon.

Leia a sinopse da editora: “O Brasil não trata bem os seus heróis. Bravos, que doam ao país o seu sangue como no caso do herói deste livro – e até mesmo seu bem mais precioso, suas vidas –, são esquecidos pela sociedade. O tenente da reserva Apollo Miguel Rezk, convocado pela força expedicionária Brasileira que, na Segunda Guerra Mundial, combateu no teatro de operações da Itália, escreveu páginas gloriosas de nossa história militar. Seus feitos heroicos estão contados neste livro, com o reconhecimento que não obteve em vida. Quando de seu falecimento, em janeiro de 1999, o governo americano enviou um representante ao funeral do herói. O oficial da Marinha dos EUA confidenciou a um dos familiares do major Apollo: ‘Não entendo vocês brasileiros. Na minha terra, alguém com as importantes condecorações de guerra do Major Apollo, teria recebido, ao longo de sua vida, as homenagens, o respeito e a gratidão de seu povo’”.

De fato, o Brasil esqueceu os bravos que lutaram na Europa. Pelo menos livros estão resgatando suas histórias – que é uma forma da valorizá-los, de lembrá-los.

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