O atleta afirma que nunca quis o menino — “desde que ele nasceu. Nunca gostei dele e esse foi o único motivo pelo qual o matei. Não tenho nenhum problema mental”

“De vez primeira que me assassinaram/ Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…/ Depois, de cada vez que me mataram,/ Foram levando qualquer coisa minha…”Mario Quintana, “A Rua dos Cataventos”

O poeta e jornalista Iúri Rincon Godinho pergunta: “Qual a notícia que você não gostaria de publicar?” Respondi: várias. Mas uma particularmente eu não gostaria de publicar. O zagueiro Cevher Toktas, de 32 anos, matou o filho Kasim, de 5 anos. Ao ser preso, o jogador de futebol da Turquia confessou: “Nunca quis o meu filho, desde que ele nasceu. Não sei porquê, mas nunca gostei dele e esse foi o único motivo pelo qual o matei. Não tenho nenhum problema mental”.

Cevjer Toktas e seu filho, Kasim — assassinado aos 5 anos | Foto: Reprodução

O atleta do Bursa Yildirimspor asfixiou o menino durante 15 minutos. Inicialmente, Cevher Toktas mentiu. Levou a criança a um hospital e disse que suspeitava que ela estava com a Covid-19 — daí a falta de ar.

Cevher Toktas está preso e a imprensa turca informa que a tendência é que seja condenado à prisão perpétua.

O que explica a maldade de Cevher Toktas? Difícil de explicar, talvez seja só isto mesmo: maldade. A maldade de quem tem poder, por, ao ser adulto, ter força, contra quem é impotente, e, sendo criança, não tem poder algum. Pode-se simplesmente desfazer de quem não se gosta?

À Justiça resta condenar Cevhear Toktas à prisão perpétua. Mas o que fazer com sua história terrível? O que Fiódor Dostoiévski fez em “Crime e Castigo” e o que Albert Camus fez em “O Estrangeiro”: literatura. Há crimes mais abomináveis do que outros — inomináveis, diria Samuel Beckett — e o do jogador de futebol é um dos deles.