Jáfia estudou em escola pública no Tocantins, fez mestrado nos EUA e faz doutorado na Inglaterra

13 maio 2021 às 20h08

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A jovem chegou a entrar para o Instituto Federal de Goiás, mas decidiu estudar no exterior. Ela fala seis idiomas e está aprendendo árabe e tupi-guarani

Jáfia Naftali Câmara não nasceu em “berço de ouro”, e sim em “berço de bijuteria”. Ela nasceu em Paraíso do Tocantins. O pai, José Pereira de Araújo, motorista de ônibus e caminhão, não frequentou escola. A mãe, Ivete Alves Câmara de Araújo, concluiu o ensino médio, com dificuldade.
Apaixonada pelos estudos, desde criança, Jáfia foi matriculada pelos pais na Escola Municipal Jardim Paulista. No quinto ano do ensino fundamental, a criança descobriu uma paixão, a língua inglesa, que começou a estudar com atenção. A família pagou-lhe um curso com imensa dificuldade. Mas os pais sabiam que a menina queria aprender, queria conhecer e, de alguma maneira, conquistar o mundo.

Jáfia não aprendeu inglês tão-somente por mero prazer — a leitura de Shakespeare e James Joyce em inglês significa um imenso prazer —, mas também para trabalhar. Aos 14 anos, dominando à perfeição a língua do poeta William Blake, a adolescente decidiu dar aulas no município de Divinópolis. A mãe a levava para o trabalho.
Ao terminar o ensino médio, Jáfia mudou-se para Goiânia para estudar no Instituto Federal de Goiás. Cedo optou por outro caminho e foi para os Estados Unidos, onde começou a estudar Literatura Inglesa, Crítica e Teoria, na Universidade da Califórnia.
Aluna do primeiro time, do alto clero cultural, Jáfia conquistou uma bolsa e fez mestrado na Universidade de Nova York. Então já falava o inglês da rainha, ou seja, com a fluência dos nativos.
Na República Dominicana, estudou o sistema educacional do país como tema de seu mestrado. Aproveitou para aperfeiçoar-se na Língua Espanhola, a de Cervantes, Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez e Lezama Lima.
Concluído o mestrado, em 2017, Jáfia começou a fazer o doutorado na Universidade de Bristol, na Inglaterra. A jovem pesquisa “experiências e perspectivas e educacionais de jovens e famílias refugiadas e em busca de asilo no Reino Unido”, segundo relato da Secretaria da Educação do governo do Tocantins.

No momento, Jáfia fala seis idiomas e está lutando para aprender árabe e tupi-guarani (língua que o escritor Bernardo Élis e Couto Magalhães, presidente da Província de Goiás no século 19, sabiam com precisão). “Falar vários idiomas me permitiu acessar mais oportunidades, conseguir empregos com melhores salários e me comunicar com pessoas de várias origens linguísticas e culturais. Mais importante, ajudou-me a compreender o mundo, as histórias e eventos políticos e sociais de vários contextos diferentes”, sublinha a jovem pesquisadora. Aprender línguas é praticamente um exercício antropológico. É conhecer o “outro” em profundidade. É a língua que confere identidade a um povo.
Formada por universidades de qualidade, como uma aluna excepcional — daí as bolsas —, Jáfia não se considera uma integrante das elites e, por isso, não esquece de onde veio. “Sempre continuarei aprendendo e valorizando o conhecimento. Quero continuar ajudando pessoas de origens desprivilegiadas — como eu — a terem melhores oportunidades educacionais e de vida. Encorajo os jovens e todas as faixas etárias tocantinenses a valorizarem a educação, nunca é tarde demais para aprender. É importante que todos nós busquemos e exijamos melhores oportunidades educacionais e levemos a educação a sério”, afirma a jovem.