Um dos mais importantes jornalistas de Goiás, Hélio Rocha foi editor de “O Popular” e do “Diário da Manhã” e correspondente da revista “Veja”

Só há dois tipos de leitores em Goiás: os que admiram Hélio Rocha e os que, ao conhecerem seu belo texto, também vão admirá-lo. Aos 79 anos, escreve com a graça de um garoto e o talento de um estilista da Língua Portuguesa. Ele sabe das coisas — sim, de muitas coisas e vai contá-las pra você, leitor. O jornalista assina, a partir deste domingo, 3, a coluna Memorando no Jornal Opção. Goiás, se pudesse, aplaudiria de pé. Porque se trata de um dos mais importantes profissionais do Estado e do país (trabalhou nas revistas “Fatos & Fotos” e “Veja”). Sobre a primeira coluna, basta dizer que é inteligente, bem escrita e divertida. Não dá para deixar de ler — do começo ao fim — e replicar para os amigos.

Hélio Rocha é um grande contador de histórias. No fim da década de 1970, acompanhou o governador Ary Valadão a Washington, nos Estados Unidos, onde seria assinado um contrato com o BID. Lá, um auxiliar do líder da Arena, Salvino Pires, pediu: “Hélio, conte-nos a história de que um jornal derrubou um presidente americano”. Com sua calma habitual, o jornalista relatou que o “Washington Post” publicou uma série de reportagens, a respeito do caso Watergate, e o presidente Richard Nixon foi compelido a renunciar, em 1974. Ary Valadão ouviu tudo, silente. Ao término do relato vociferou: “Não consigo entender como o homem mais poderoso da Terra não conseguiu ‘afundar’ um simples jornal”. Na época, vivia-se uma ditadura no Brasil, e o gestor goiano não soube, por certo, entender a força e o poder da democracia americana — que é resistente porque alicerçada na durabilidade e solidez das instituições e num povo que não aceita ditadura.

O jornalista integra uma família de jornalistas, como Reinaldo Rocha, Ana Cláudia Rocha e Eduardo Rocha. O pai, Odilon Rocha, é um poeta de muitos méritos.

Hélio Rocha foi editor de “O Popular” e do “Diário da Manhã” e correspondente da revista “Veja” em Goiás | Foto: Arquivo pessoal
A história profissional de Hélio Rocha

Em 1960, aos 19 anos, Hélio Rocha começou a trabalhar no jornal “Diário do Oeste” (seu proprietário era Valdemar Gomes de Melo). O repórter cobria o Palácio da Esmeraldas, onde pontificava o governador Mauro Borges. “Mauro era cordial, atendia bem os jornalistas, era respeitoso. Já seu pai, Pedro Ludovico, não tinha paciência.”

Em seguida, Hélio Rocha migrou para o “Diário de Goiás”, que era do Cerne. Depois, convidado pelos irmãos Walder de Góes, editor de Política, e Wagner de Góes, editor-chefe, seguiu para “O Popular”. Como subeditor, ajudava Wagner de Góes a “fechar” as edições do jornal. “Wagner era competente. Mais tarde, foi para a capital do país editar o ‘Jornal de Brasília’.”

Para se aprimorar, Helio Rocha — que é formado em Ciências Sociais, na mesma turma de Walder de Góes — fez o curso Bloch de Comunicação e trabalhou na revista “Fatos & Fotos” (os críticos diziam que era mais “Fotos” do que “Fatos”), no Rio de Janeiro. O “fato”: as “fotos” eram um sucesso.

No início da década de 1970, Hélio Rocha foi contratado como correspondente da “Veja” em Goiás. “Escrevi várias reportagens para a publicação da Editora Abril. O diretor de redação, Mino Carta, era boa gente. Certa feita, foi padrinho de formatura de uma turma de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás. Cristiana Lobo (na época, Mendes), Mariângela Berquó e Cristina Veiga pertenciam à excelente turma. Na véspera da formatura, durante um jantar na casa da Cristina Veiga, Mino Carta irritou-se e começou a xingar uma pessoa. O indivíduo perguntou: ‘Você criou a IstoÉ para fazer o jogo do Golbery do Couto e Silva?’ Mino Carta xingou o sujeito e só se acalmou quando o embaixador Hugo Gouthier conversou com ele. Chamado pelo Rogério Gouthier, eu também conversei com o Mino, que, nascido na Itália, em 1933, mora no Brasil desde 1946. O nome dele é Demetrio Carta.”

No início da década de 1980, depois de encerrada a publicação do “Cinco de Março”, o jornalista Batista Custódio lançou o jornal “Diário da Manhã”. “Cheguei ao ‘Diário da Manhã’ pelas mãos do Javier Godinho, que também havia trabalhado em ‘O Popular’. Eu e Carlos Alberto Sáfadi éramos os principais editores. Depois de dois anos e meio no jornal, voltei para ‘O Popular”, atendendo convite do diretor de Jornalismo, Domiciano de Faria. Ele foi à minha casa. Antes, como editor-chefe, eu havia promovido uma grande reforma gráfico-editorial em ‘O Popular’. Nessa época, ‘O Popular” superou a ‘Folha de Goiaz” em número de leitores. Ao voltar, fiz uma minirreforma. A coluna ‘Giro’, a mais lida do jornal, foi criada por mim. Criei o ‘Caderno 2’, com este nome, mas, como o jornal não fez o registro, o ‘Estadão’, cujo ‘Caderno Novo’ era mais recente, ficou com a marca. Por isso, o ‘Caderno 2’ de ‘O Popular’ passou a se chamar ‘Magazine’.”

Em “O Popular”, além de escrever a coluna “Giro”, que não era assinada, Hélio Rocha passou a escrever os editorais. Reinaldo Rocha assumiu como editor-chefe quando o irmão foi para o “Diário da Manhã”.

Hélio Rocha manteve um relacionamento profissional e de amizade com Jaime Câmara, o pai do atual presidente, Jaime Câmara Júnior, conhecido como Júnior Câmara. “O relacionamento era muito bom, franco e cordial. Ele confiava em mim e posso dizer que, com o passar do tempo, nos tornamos amigos.”

Autor de 12 livros, como uma biografia de Pedro Ludovico — “Tu És Pedro” —, Hélio Rocha está terminando de escrever a história do Goiás Esporte Clube. O título é: “Verde Que Te Quero Verde — História do Goiás Esporte Clube”.

Hélio Rocha fará 80 anos em agosto deste ano. Não parece ter esta idade. A memória é excelente e fala e escreve com uma jovialidade que impressiona. A editora responsável pelo Jornal Opção, Patrícia Moraes, convidou-o para ser colunista “por causa de seu imenso talento”.

Ter Hélio Rocha ao lado é como ter a história dizendo que quer falar conosco. Um grande presente. Para nós e para os leitores.