Jornais da França pressionam e arrancam acordo com a gigante americana. Austrália também pressiona. No Brasil, apesar de um projeto, a farra da “gratuidade” continua

Pierre Louette, presidente da Apig, atua em defesa da imprensa francesa contra o monopólio do Google | Foto: Reprodução

As big techs Google e Facebook não ganham dinheiro tão-somente explorando a boa vontade dos jornais, ao publicar seus conteúdos e, claro, sem pagar um níquel. As gigantes americanas são bilionárias graças à sua competência, a multiplicidade de seus negócios — que o próprio Departamento de Justiça dos Estados Unidos caracteriza como “monopólio”. Sob o mito de que a internet é um território livre — evidentemente, não é; mas internautas compraram o discurso e o repetem com frequência nas redes sociais —, tais empresas agem como se estivessem acima das leis dos Estados nacionais. Há dois fenômenos que merecem menção. Primeiro, a reação tardia dos países, inclusive das empresas de comunicação, que, muitas delas, estão endividadas e quase falindo. Segundo, sob pressão dos jornais e governos, as big techs começam a ceder, aceitando negociar, como no caso da França.

A tendência mundial, daqui pra frente, é que o Google e o Facebook remunerem os jornais ao divulgarem suas notícias. Será suficiente para arrancar os grupos de comunicação da crise, às vezes falimentar? Não. Mas é um passo importante, inclusive para indicar que ninguém está acima das leis pactuadas nos países. Não há território livre, onde vale tudo, inclusive expropriar a produção intelectual dos jornais, revistas etc.

Sébastien Missoffe: chefe do Google na França | Foto: Reprodução

Reportagem da Agência AFP, publicada no Brasil pela “Folha de S. Paulo”, sob o título de “Google assina acordo de remuneração com mídia francesa”, é reveladora dos novos tempos do relacionamento entre o Google e a imprensa.

O Google e a Alliance de la Presse d’Information assinaram, na França, um acordo pela qual a big tech vai remunerar jornais franceses. A Apig representa jornais diários nacionais e regionais.

A agência informa que “o Google negociará acordos individuais de licenciamento com os membros da Apig”. Os “contratos cobrirão direitos conexos [similar ao copyright] e também darão aos jornais acesso ao News Showcase, programa lançado recentemente pelo Google que remunera a mídia por uma seleção de conteúdo enriquecido”.

Ângelo Coronel: projeto do senador beneficia a imprensa brasileira | Foto: Reprodução

Os valores da remuneração não foram revelados, pois são considerados confidenciais. Há uma tendência de o Google oferecer migalhas para “salvar” a imprensa. Na verdade, não “salva”, mas ilude, inclusive publicações brasileiras que parecem “empolgadas” com certas parcerias com Google e Facebook.

O comunicado revela que “a remuneração será calculada individualmente e com base em critérios como contribuição para a informação política e geral, volume diário de publicações e audiência”.

O presidente da Apig e CEO da Les Echos-Le Parisien, Pierre Louette, assinala que o acordo “marca o reconhecimento efetivo dos direitos conexos dos publishers e o início da sua remuneração por plataformas digitais pela utilização das suas publicações”.

Embora jogue duro em outros países, como a Austrália — chega a agir para reduzir a audiência de jornais —, na França o Google decidiu recuar. O chefe da empresa no país, Sébastien Missoffe, disse que há um “compromisso” com os jornais.

O acordo do Google com os jornais — não todos, e as agências de notícias, como a Agence France-Presse, estão negociando separadamente — tem validade de três anos. Depois, as empresas terão de abrir novas negociações.

No Brasil, há um projeto do senador Ângelo Coronel (PSD-BA) para Google e Facebook remunerarem jornais e revistas, mas ainda não foi aprovado. Por enquanto, no país de Assis Chateaubriand e Roberto Marinho, dois Kanes patropis, as duas empresas deitam e rolam, apropriando-se dos conteúdos locais sem pagarem nada. Eventualmente, para disfarçar, liberam algumas migalhas para os jornais.