Globo precisa fazer seu “mea culpa” no caso Guimê/Cara de Sapato
19 março 2023 às 00h36
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A expulsão do funkeiro MC Guimê e do lutador Cara de Sapato do Big Brother Brasil 23 foi um marco na história dos reality shows nacionais por fazer, ao vivo, a expulsão de integranetes que “saíram da casinha” – expressão suave para falar do cometimento de crimes, como foi, no caso, a importunação sexual contra a influenciadora e modelo mexicana Dania Mendez.
Na quinta-feira, 16, o apresentador Tadeu Schmidt, com todos os participantes do programa presentes na sala principal, leu ao vivo uma nota em tom grave:
“Eu queria muito estar aqui hoje para falar de festa e alegria, mas estou aqui para falar de algo bem desagradável. Nós temos na nossa casa uma convidada, uma visitante, uma pessoa que veio de outro país, mas acima de tudo uma mulher e, como todas as mulheres, merece respeito absoluto. Nós conversamos com a Dania, mas a partir de tudo que vimos e ouvimos, eu estou aqui para dizer que nós não gostamos do que vimos ontem. Sapato e Guimê passaram do ponto. É preciso tomar cuidado com os limites aqui e fora daqui. Assim, por contrariar as regras do programa, Guimê e Sapato estão eliminados do BBB 23.”
Porém, há um porém: se o assédio contra a mexicana Dania Mendez aconteceu na noite anterior, o que levou a emissora a demorar praticamente 24 horas para, de fato, punir quem o cometeu?
Um dos slogans do reality show é “a casa mais vigiada do Brasil”. Com certeza, havia profissionais da TV de olho no que estava acontecendo enquanto estava acontecendo. Não seria o caso de fazer a abordagem imediatamente, ao menos para interromper a atitude delinquente?
Gostar ou não do BBB, assistir ou não ao programa, isso não importa. O que torna a coisa grave é ser um entretenimento visto por milhões de pessoas e que causa, sim, repercussões. Nesse sentido, a Globo esperar o horário nobre do outro dia para fazer o “anúncio histórico” foi, no mínimo, estranho. Dá aos críticos o direito de pensar que pensou mais em audiência do que em proteção a Dania e às demais “sisters”.
Mais do que isso, a própria vítima foi posta em situação constrangedora, cujo desenlace foi ela mesma ter sido, depois, retirada do programa, do qual participava como convidada por intercâmbio com outro reality show, de seu país de origem.
Como disse o jornalista Chico Barney, “a vigilância de tantas câmeras, 24 horas por dia, precisa servir para deixar aquelas pessoas em segurança”. A Globo, que cada vez mais prima pela defesa do direito das minorias, desta vez pisou na bola e deveria reconhecer isso.