Felipe Neto é o novo dono do ICL, ao lado de Eduardo Moreira e Rafael Donatiello
23 julho 2024 às 13h41
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O empresário e influenciador Felipe Neto é o novo sócio do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), ao lado de Eduardo Moreira e Rafael Donatiello (o CEO do grupo).
Às vezes me perguntam: o “ICL Notícias é de esquerda?” e “o ICL é independente?”
Sim, o ICL é de esquerda, “progressista” (palavra usada por Felipe Neto). Quanto a ser “independente”, dada a relativa da vagueza da palavra ao ser aplicada ao jornalismo, é mais complicado. Afinal, pode-se ser de esquerda — ou de direita — e, ao mesmo tempo, ser independente?
O que é independência em termos jornalísticos? Tem a ver com as ideias do veículo ou a respeito de como se mantém financeiramente?
Talvez seja mais interessante ir para o outro rumo: mesmo sendo de esquerda, o site informa corretamente, com objetividade? O ICL Notícias é bem-feito, é de esquerda e, no geral, me parece objetivo. Abre espaço para correntes que não são de esquerda? Se Noam Chomsky está presente, como figura respeitada internacionalmente, o filósofo liberal Francis Fukuyama teria o mesmo espaço para expor suas ideias? Talvez sim, talvez não.
O ICL é um site de esquerda, moderado. Ainda que seja enfático na defesa de suas ideias, não é extremista.
Ao anunciar a parceria com o ICL, Felipe Neto disse: “Esquece [a] Jovem Pan. A Jovem Pan não tem quer ser rival do ICL porque está comendo poeira e vai comer muita poeira”.
Como esquecer a Jovem Pan, que trafega pelo campo da direita, embora tenha se tornado um pouco mais moderada pós-debacle de Jair Bolsonaro, se o próprio Felipe Neto faz questão de lembrá-la? O influenciador define o ICL a partir do concorrente — ou seja, da diferença ideológica e da perspectiva jornalística.
Outra questão: para a democracia, para seu fortalecimento, não é importante que existam o ICL e a Jovem Pan? O ICL me interessa mais do que a Jovem Pan, mas não sugiro que o segundo veículo da direita seja esquecido. É importante que se tenha mais vozes na sociedade. A divergência enriquece e fortalece a democracia — desde que um grupo não queira suprimir o outro.
Felipe Neto afirma que, nos Estados Unidos, a mídia não esconde suas preferências políticas. O que é um fato. No país de Ben Bradlee, o lendário diretor de redação do “Washington Post”, os jornais, nos períodos eleitorais, chegam a apontar os candidatos pelos quais têm simpatia.
Mas, ao contrário do que pode parecer, nem todos os jornais fazem o mesmo. E mais: o “New York Times” e o “Washington Post”, para citar apenas dois jornais, são críticos, nas reportagens, tanto aos republicanos quanto aos democratas. Não se alinham com nenhum dos dois partidos. Os editoriais e as reportagens não são, várias vezes, equivalentes. As reportagens são muito mais objetivas, com amplo equilíbrio das versões. A imprensa americana costuma documentar bem suas denúncias, para que os fatos fiquem, digamos, acima das versões.
Voz positiva do progressismo brasileiro, com posições pró-civilização e anti-barbárie, Felipe Neto assinala: “Sou um grande admirador do ICL há algum tempo. É fundamental que o grande público tenha acesso a um veículo progressista em um país dominado pelo conservadorismo.”
Concordo: o país precisa ter variedade de jornais, sites, portais. Mas uma nação que tem um presidente de esquerda, como Lula da Silva — que não faz um governo ruim, apesar do bombardeio do, por exemplo, “Estadão” —, é mesmo “dominado pelo conservadorismo”?
O conservadorismo é forte, como provam votações no Congresso, mas o país, que elegeu, em 22 anos, cinco governos de esquerda (Lula da Silva três e Dilma Rousseff duas vezes) e tem um Supremo Tribunal Federal progressista, pode mesmo ser considerado um papado do conservantismo?