A esquecida questão educacional e as lembradas eleições do Sintego
25 maio 2014 às 21h55
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Dirigentes do Sintego estão mais preocupados com questões político-partidárias do que com questões reais da educação
Nelson Soares dos Santos
Os últimos anos não foram bons para a Educação. Os salários são ruins, a infraestrutura é péssima, as verbas são insuficientes, os professores estão adoecendo, a gestão e os resultados são os piores do mundo. Praticamente todos aqueles envolvidos no processo educativo e nas políticas educacionais têm consciência disso. A questão é que, quando se resolve buscar um culpado, os primeiros apontados são os gestores públicos, mais especificamente prefeitos, governadores e governo federal. O que poucos tendem a observar é a contribuição que têm dado os pais e os próprios profissionais da Educação para a construção da decadência da escola ou da Educação pública neste país.
Eu poderia falar sobre os pais, ou sobre os governos. Vou falar um pouco dos próprios profissionais da Educação, aproveitando as manchetes que ainda estão quentes na memória dos goianos. As eleições do Sintego acabam de acontecer, mas nos próximos cinco dias haverá recontagem de votos, e uma troca infinda de acusações entre as duas chapas mais votadas. É acusação de todo tipo. Trapaças, fraudes e outras mais. Nos últimos dez anos tem sido comum, em todas as eleições do Sintego, praticamente a mesma história. E quem quiser ter a curiosidade de, conhecendo o enredo, buscar os nomes dos atores e autores de tais peripécias verão que são sempre os mesmos. A verdade é que o Sindicato dos Professores de Goiás se transformou em um elemento da luta partidária, e a própria luta interna na qual está mergulhada representa a tentativa de controle feita por diversos partidos políticos, mas ainda sob controle total do PT e de seus dissidentes.
As regras e movimentos quando se dá um enfrentamento com os governos, ou quando se vai discutir a possibilidade de uma greve, não têm sido mais os interesses dos profissionais da Educação. Aliás, a maioria dos que dirigem o sindicato não deveria se dar o nome de educadores, pois se transforam em sindicalistas ou quando não políticos profissionais a serviço de algum partido. Os últimos enfrentamentos tanto com o governo estadual quanto com o governo municipal da cidade de Goiânia tinham unicamente os interesses políticos partidários como fundamento, ou o que explica a existência descarada de dois pesos e duas medidas?
O movimento contra o chamado “Pacto pela Educação” do governo estadual e que legitimamente ganhou o apoio da classe trabalhadora e dos profissionais da Educação foi um exemplo claro de como o Sintego não tem mais legitimidade para defender os interesses dos educadores. O sindicato fez o jogo político em sua pior forma, e se alguns direitos foram preservados não o foram por causa da atuação do sindicato, e sim de um grupo de professores dissidentes, que manteve a mobilização e recebeu o apoio de amplos setores da sociedade goiana. O Sintego perdeu a oportunidade de reviver o espírito de luta dos educadores por dias melhores na Educação. Perdeu a oportunidade de envolver pais e alunos na discussão de um verdadeiro Pacto pela Educação, porque, na verdade, estava mais interessado em defender os interesses de partidos políticos no jogo político e eleitoral.
Durante os próximos dias, é mister que todos aqueles interessados nos rumos da Educação em Goiás acompanhe o desenrolar das trocas de farpas que ocorrem no processo eleitoral do sindicato. O que ali está em jogo não é apenas quem vai ter a máquina do sindicato nas mãos para ajudar este ou aquele candidato. É muito mais. O que está em jogo são elementos importantes de como se dará a luta por uma Educação de qualidade em nosso Estado. Entretanto, não se enganem: nenhum dos envolvidos tem legitimidade para representar os professores e servidores da Educação goiana; são, pelos currículos que apresentam, velhos políticos profissionais a fazer um triste trabalho em defesas de interesses que nada contribuem para a construção de uma sociedade melhor.
Nelson Soares dos Santos é professor universitário, membro do Diretório Estadual do PPS em Goiás e membro-suplente do Diretório Nacional do PPS.