O material, que está sendo catalogado pela Academia Brasileira de Letras, estava nos arquivos do crítico literário José Veríssimo, amigo do autor de “Dom Casmurro”

Machado de Assis foto inedita

O repórter André Miranda, de “O Globo”, publicou uma interessante reportagem, “ABL recebe material inédito de Machado de Assis, na quinta-feira, 15. Das 61 cartas trocadas entre Machado de Assis e o crítico literário José Veríssimo, “há mais de um século, 11 era completamente desconhecidas dos pesquisadores” da Academia Brasileira de Letras. Entre as surpresas há uma fotografia inédita [ao lado], com boa qualidade, do autor de “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

O material pertencia à família de José Veríssimo, ao seu neto, o sociólogo e advogado Jorge Veríssimo. Quando Jorge morreu em 2013, aos 91 anos, seus dois filhos e a viúva, Helena Araújo Veríssimo, procuraram a ABL e mostraram o material. “O Jorge sempre teve muito ciúme desse acervo e nunca quis fazer a doação. Mas me afligia muito ver a quantidade de documentos pressionados naquele gaveteiro”, diz Helena Veríssimo. Graças ao fato de que os documentos estavam “incomodando”, os pesquisadores terão acesso a mais documentação, sempre importante, que diz respeito ao maior escritor brasileiro.

José Veríssimo era amigo de Machado de Assis e na redação de uma publicação que dirigia, a “Revista Brasileira”, “aconteceram as primeiras reuniões para se definir o que seria a ABL, já com a presença de Machado, famoso morador do Cosme Velho”, anota “O Globo”.

Machado de Assis carta 1 para José Veríssimo

A ABL está vasculhando os arquivos de José Veríssimo, falecido em 1916.

“Estamos começando agora o trabalho com esse acervo. O tempo para termos tudo catalogado e também para fazermos o cruzamento completo com outras correspondências que já temos em nosso arquivo é de até três anos. São itens valiosos, sobre os quais já estamos trabalhando”, disse Maria Oliveira, chefe do arquivo da ABL, em entrevista a André Miranda.

Os pesquisadores descobriram também cartas remetidas pelo historiador Oliveira Lima. José Murilo de Carvalho, um dos mais notáveis historiadores do país, disse ao “Globo”: “São mais de 150 correspondências do Oliveira Lima. E isso é fabuloso, porque o acervo do Oliveira Lima não está no Brasil. Como ele tinha brigado com o Barão de Rio Branco, ele ordenou em seu testamento que todo seu acervo ficasse em Washington, onde era diplomata. Hoje, para pesquisarmos documentos originais de Oliveira Lima, precisamos ir até a Universidade Católica de Washington”.

Os pesquisadores da ABL também acharam “um álbum com os menus de jantares oferecidos entre os fim do século 19 e o início do século 20, no Rio” de Janeiro. “Na época, esse menus eram preparados especialmente para cada ocasião mais solene e tinha ilustrações de artistas”, registra “O Globo”.

Machado-de-Assis carta 2 para José Veríssimo

José Veríssimo era um intelectual de posições firmes. Hoje, José Sarney, um escritor e político do segundo time, é saudado como escritor respeitado na ABL. Em 1912, quando o político Lauro Müller, ministro das Relações Exteriores, foi eleito para a Academia, em sinal de protesto, porque não o avaliava como escritor, José Veríssimo afastou-se. Por isso, acredita José Murilo de Carvalho, o acervo do crítico literário não foi entregue para a Academia quando de sua morte, em 1916.

A ABL publicou recentemente um grande volume com a correspondência de Machado de Assis. Pesquisadores avaliam que ajudarão a rever alguns aspectos da vida do autor dos romances “Quincas Borba” e “Memorial de Aires”. Novas biografias, mais abrangentes que as atuais (Raimundo Magalhães, Dau Bastos e Daniel Piza), certamente serão escritas.

Machado de Assis está sempre surpreendendo pesquisadores brasileiros, como Sérgio Paulo Rouanet e Alfredo Bosi, e internacionais, como John Gledson.