Depois de 15 anos em Israel, Herbert Moraes volta ao Brasil pra se tornar repórter especial da Record
26 abril 2020 às 00h00
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O jornalista cobriu guerras em Gaza, a batalha entre Israel e Líbano, reportou a Primavera Árabe e a queda de Kadafi na Líbia
Herbert Moraes começou a estudar Direito em Goiânia, mas, entendendo que sua vocação era outra, mudou-se para São Paulo, onde cursou Jornalismo. Formado, começou a trabalhar na TV Record. Dado o fato de falar inglês muito bem, quando surgiu uma vaga de correspondente em Israel, não pensou meia vez. Foi para Tel Aviv com a cara e a coragem, mesmo sabendo (e por isso mesmo) que o Oriente Médio é uma região permanentemente conflagrada. Lá, quer queira ou não, o jornalista não é apenas correspondente internacional — é, acima de tudo, correspondente de guerra.
As palavras “Oriente Médio” sugerem uma certa uniformidade. Mas o que Herbert Moraes descobriu é que, mais do que homogeneidade, há uma profunda diversidade cultural, política e econômica na região. Há, por certo, identidade entre alguns países, mas há também diferenças irreconciliáveis (sunitas e xiitas, por exemplo, são adversários ferrenhos e, até, mortais), e não apenas entre israelenses e, por exemplo, palestinos. Aos poucos, dominou a língua dos israelenses, o hebraico, e começou a aprender árabe. Para se conectar com as pessoas de maneira a se sentir inserido na cultura local. O jornalista viveu 15 anos em Tel Aviv, que alguns chamam de a “bolha” — porque se trata de uma cidade segura, ou relativamente segura. Mas pode-se sugerir que, na verdade, era um jornalista itinerante, porque “peregrinou” por todo o Oriente Médio.
As coisas estavam acontecendo na Faixa de Gaza? Pois Herbert Moraes estava lá, reportando os fatos, com a maior objetividade possível, para a TV Record (e escrevendo artigos para a coluna Direto do Oriente, do Jornal Opção). Só em Gaza cobriu três guerra. Em 2006, na batalha entre Israel e o Líbano, estava por lá — reportando tudo.
De repente, explodiu a Primavera Árabe, o jornalista se fez presente, lutando para não ser expulso do Egito, onde, durante uma manifestação, chegaram a feri-lo numa mão. Ele divulgou a queda do ditador Osni Mubarak, do Egito. Com a guerra na Líbia, com os consequentes afastamento e morte de Muammar Kadafi, o profissional, com o apoio de um cinegrafista e um motorista, correu pra lá. Enfrentou perigos quase letais — sobretudo por causa de seu passaporte de Israel —, mas não desistiu. Fez a cobertura e voltou para Tel Aviv. Com sua calma e elegância habituais.
Herbert Moraes conseguiu entrevistas exclusivas com o palestino Mahmoud Abbas e os israelenses Benjamin “Bibi” Netanyahu e Shimon Peres.
Nos 15 anos em que viveu em Tel Aviv — e andando o tempo inteiro pelo Oriente Médio (esteve também na Jordânia, onde entrevistou a rainha Rania Al Abdullah) —, Herbert Moraes acompanhou, bem de perto, o desenvolvimento de Israel, que é uma potência. Uma visão redutora tende a ver o país tão-somente como uma potência bélica — por ter Forças Armadas altamente bem equipadas (e vencedoras), e inclusive tendo a bomba atômica. Mas trata-se, na verdade, de uma potência com desenvolvimento tecnológico muito superior à maioria dos demais países. Tem inclusive seu vale do silício (o país é campeão em TI e startups).
O que o jornalista percebeu em Israel é que, se a unidade do povo é um dos seus pontos fortes, é preciso admitir que a diversidade também está presente. Há grandes escritores, como David Grossman, Amóz Oz, A. B. Yehoshua e Yehuda Amichai. O historiador Israelense Yuval Noah Harari, autor de “Sapiens — Uma Breve História da Humanidade” e “21 Lições Para o Século 21”, é uma celebridade internacional.
Agora, com ampla experiência internacional (também fez reportagens em Londres), Herbert Moraes está de volta ao Brasil. Ele já está trabalhando como repórter especial da TV Record, em São Paulo.
Dita Kraus, sobrevivente de Auschwitz
Há quase sete anos, em 2013, Herbert Moraes entrevistou Dita Kraus, hoje com 91 anos, em Israel. É uma sobrevivente do campo de concentração e extermínio mais letal, Auschwitz, construído pelos nazistas da Alemanha em território polonês. Lá, com 14 anos, Dita Kraus era a encarregada de esconder e cuidar de oito livros — daí ter se tornado conhecida como “a bibliotecária de Auschwitz”.
Depois da entrevista, devidamente traduzida por amigos, Dita Kraus escreveu uma carta para Herbert Moraes, em inglês, agradecendo tanto pela transcrição precisa de suas respostas quanto pela percepção aguçada de suas emoções durante a entrevista. Porque, se o nazismo de Hitler acabou — apesar dos neonazistas —, Auschwitz “vive”, para além da história, incrustado na pele e na alma dos sobreviventes e, também, de seus familiares. Trata-se do inominável que jamais se esquecerá.