Bolsonaro não tem prova de fraude em urna eletrônica
03 julho 2021 às 21h47
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O presidente blefou e agora não tem como apresentar evidências de que as eleições de 2018 foram fraudadas
Fraudes eleitorais eram recorrentes no Brasil, até pouco tempo, quando não existiam as urnas eletrônicas. O controle da contagem dos votos era da Justiça Eleitoral, mas sempre havia possibilidade de manipulação. Desde a implantação das urnas eletrônicas, que deram controle total do processo ao Tribunal Superior Eleitoral, as fraudes acabaram.
Mesmo assim, e sem apresentar evidências — só ilações —, o presidente Jair Bolsonaro continua insistindo que é possível fraudar as urnas eletrônicas. Curiosamente, ele venceu os dois turnos das eleições presidenciais de 2018. Alguma fraude teria sido cometida a seu favor, então? Claro que não.
No momento, Bolsonaro pressiona o Congresso para aprovar o voto impresso, que impediria fraudes. Ora, o que impede a manipulação é a urna eletrônica.
O TSE deu prazo até segunda-feira, 5, para Bolsonaro apresentar as provas de que houve fraude na disputa eleitoral de 2018. Como não tem nenhuma evidência para apresentar, o presidente tergiversa. Claro que nada apresentará. Ele caiu na própria armadilha. Mas conta com o apoio de seguidores crédulos, que acreditam na sua fala, sem questioná-la.
Sua “crítica” nem parece formulada por um político que ocupa a Presidência da República — tanto que fala em consultar hackers para “provar” que o sistema da Justiça Eleitoral é passível de fraude. “Eu pretendo, já fizemos contato com as pessoas que entendem do assunto, são hackers, para fazer uma demonstração pública. Lógico que a televisão não vai mostrar, eu vou fazer uma live. A tevê tem interesses em qualquer candidato, menos em mim. Eu acabei com a teta deles, pô. Era um dinheiro público de fazer pena”, afirma Bolsonaro.
É raro um presidente que diz ter contato com hackers. Tais “profissionais” teriam tentado fraudar alguma urna eletrônica? Como o presidente se pôs em contato com eles? Qual é a legitimidade de sua ação?
Bolsonaro tem atacado o ministro Luís Roberto Barroso, um dos mais qualificados do Supremo Tribunal Federal e presidente do TSE. “Eu não entendo o ministro Barroso ser o um ferrenho opositor ao voto auditável. Nós queremos transparência”, clama o presidente. Ora, não é o Exército, “supostamente” chefiado por Bolsonaro, que impôs um “silêncio” — censura — de 100 anos no ato que avaliou se o ex-ministro Eduardo Pazuello, um general da ativa, deveria ser punido por ter participado de uma comiciata do presidente no Rio de Janeiro? Transparência de um século! Bota transparência nisso.
As urnas eletrônicas são o que há de melhor no sentido de garantir lisura ao pleito eleitoral. Espera-se que, dentre em breve, Bolsonaro não defenda a adoção da pedra lascada ou da pedra polida.
Vale lembrar que Bolsonaro espalhou que o tresloucado Adélio Bispo, que o esfaqueou, teria sido articulado por uma ampla conspiração de inimigos ou adversários. Aí, ele ganhou a eleição, mudou a direção da Polícia Federal, escolheu “aliados” para chefiá-la, e a conclusão não mudou. Adélio Bispo agiu sozinho. Quem diz isto não são adversários do presidente, e sim a “sua” Polícia Federal. Não há uma evidência de que alguém tenha orientado o maluco a esfaqueá-lo.