Os dois comentaristas empolgam pela qualidade de suas análises — críticas, posicionadas e sem estridência

A GloboNews vive um bom momento com seus comentaristas. O decano Merval Pereira persiste o mais contundente, por isso, às vezes, norteia a linha editorial (curiosamente, com aquele bigodão, fica parecido com o estereótipo do comunista da velha guarda). Heraldo Pereira, inteligente, preparado e bem informado, parece deslocado. No lugar de apenas passar a bola para os colegas, o que resulta de sua função de apresentador e coordenador, deveria fazer comentários também.

Julia Duailibi: comentarista perceptiva e que tem o que dizer e o faz bem | Foto: Reprodução

Os comentaristas que estão brilhando mais são André Trigueiro — espécie de faz-tudo —, Julia Duailibi e Natuza Nery.

André Trigueiro faz reportagens — as melhores são sobre meio ambiente, seu elemento —, participa de debates, opina com segurança e apresenta telejornal. Num sábado, apareceu apresentando o “Jornal Nacional”. Uma grata surpresa. Num primeiro momento, parecia tenso, dado o peso da responsabilidade. Mas saiu-se muito bem, sobretudo por ter coragem de ser enfático quando é preciso, e sem extrapolar. O formato do “JN” cobra apresentadores assépticos, glaciais. Mas até William Bonner, que era tão gélido quanto os “czares comunistas”, está se readaptando. Ele ri mais, se emociona e dá opinião (parece que está acabando a era dos apresentadores-eunucos, quer dizer, que não tinham direito à opinião).

A Globo e a GloboNews estão fazendo a coisa certa — experimentando um quadro excepcional em várias funções. André Trigueiro sabe apresentar, ainda que pareça interagir pouco com a parceira, mas talvez deva ser mais bem aproveitado como comentarista — tem conhecimento e fala bem — e repórter especial. Percebe-se que o jornalista é empático tanto com os entrevistados quanto com os telespectadores. Mas o que o faz ser um bom jornalista não é a simpatia, ou empatia, e sim a competência profissional. Além do prazer com que trabalha. Fazer bom jornalismo, para ele, não é um fardo — é, aparentemente, um prazer. O telespectador percebe isto.

André Trigueiro: repórter empático e comentarista posicionado | Foto: Reprodução

Natuza Nery mereceu um comentário à parte, recentemente. Portanto, agora é a vez de Julia Duailibi.

Trata-se de uma jornalista experimentada, com passagem pela “Folha de S. Paulo”, “Veja”, “Estadão”, “Piauí” e Band. Sua carreira é sólida. Em termos de televisão, embora tenha atuado mais em jornais e revistas, não chegou crua na GloboNews, pois havia trabalhado na Rede Bandeirantes.

Entretanto, em termos estritos de televisão, seu talento como comentarista firmou-se na GloboNews. Seus comentários são seguros e precisos — sem estridência. Recentemente, na confusão da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, que gerou uma resposta desastrada do presidente Jair Bolsonaro, Julia Duailibi processou as informações rapidamente e deu aos telespectadores uma explicação precisa do que estava acontecendo. Há jornalistas que são óbvios, às vezes por carecer de informações de bastidores, mas também, e talvez sobretudo, por não saber conectar as informações para explicar o quadro geral. Não se trata de “mastigar” as informações para os telespectadores, e sim de juntar e esclarecer os fatos, situando-os num contexto mais amplo. Julia Duailibi é craque. Ela e Natuza levam o telespectador a uma certa fidelização à GloboNews.