Em tempos de “lacração” e disputa de egos nas redes sociais, o DJ goiano Alok deu uma lição de cavalheirismo e compostura, ao responder a uma crítica recebida, ainda que indiretamente, do cantor e compositor Fagner, um dos grandes nomes da MPB dos anos 70 e 80.

Durante entrevista a um podcast, o artista cearense comparou shows de DJs a desastres ambientais. “O que mais me choca é você pegar um DJ botando 1 milhão de pessoas [em um show]. Isso pra mim é um desequilíbrio ambiental. Caramba, isso é um desastre ambiental”, criticou Fagner. “O povo vai ver um DJ que canta meia música e fica ali fazendo aquelas cenas ridículas. Isso é uma queda.”

A alfinetada do músico veterano talvez não tivesse um destinatário exato – Fagner é conhecido por suas opiniões polêmicas sobre diversos temas e várias vezes acaba sendo genérico em suas críticas –, mas o show no Brasil de um DJ que teve 1 milhão de pessoas como público foi o realizado por Alok em agosto. O espetáculo, gratuito, teve como razão comemorar os 32 anos do artista, com direito a palco em formato de pirâmide.

Em outro trecho pinçado do mesmo programa, Fagner fala que música brasileira de verdade é a nordestina – algo também controverso, já que o Brasil é um país continental e que tem centenas de ritmos conhecidos por todos os Estados.

Em resposta ao que Fagner disse no podcast, Alok fez uma espécie de remix com um trecho da entrevista, em que disse que aquilo se tratava de “uma brincadeira saudável representando a comunidade”. Na sequência, na mesma postagem, o DJ encaixou um outro remix, o da música Pagode Russo, um clássico de Luiz Gonzaga e João Leocádio que todo mundo que já foi a uma festa de São João sabe cantar e não consegue ficar parado, tamanho o suingue exalado pelas notas musicais e pelo ritmo do forró.

Mais ainda: Alok tratou o cantor como o ícone da música popular brasileira que ele é e fez uma declaração que serve como um plot twist a quem esperava ver a continuidade da treta: “Quero dizer que sou um grande admirador de Fagner e eu sei que ele é um artista que contribuiu demais para a expansão e valorização da cultura nordestina através da sua música. Se eu posso fazer os eventos que faço no Nordeste é porque ele e outros trabalharam duro lá atrás e abriram as portas para mim e outros tantos artistas que vieram.”

Fagner, é fato, tem um quê de pessoa ressentida que não precisava levar consigo. Talvez por achar que devesse ser alçado ao status que outros artistas de sua região conseguiram – tal como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, entre outros. Mas Fagner talvez não saiba que não precisa ser Caetano para ser grande, também. A resposta de Alok a sua forma um tanto desrespeitosa ao trabalho de outros artistas fala exatamente disso.

No fim do mesmo vídeo, Alok – nascido em Goiânia e que tem, como nome de registro, Alok Achkar Peres Petrillo – aproveita para demonstrar mais humildade ainda e dizer que está “tudo bem” que Fagner pense da maneira que pensa sobre as novidades do cenário musical, como os DJs – aliás, nem tão “novidades” assim, convenhamos. “Ele é uma lenda viva (…). Com certeza ele é muito mais talentoso musicalmente do que eu. Eu tenho outros talentos e tá tudo certo”, completou.

A certeza que fica é de que, partindo do caso em discussão, a internet e as redes sociais precisam de mais Aloks e menos Fagners. Toda distensão nos cenários virtuais pesados será sempre benéfica. Por isso, o DJ goianiense está de parabéns. Em tempo: ao contrário do que possa parecer a fala de Fagner sobre apresentações de DJs serem “desastres ambientais”, Alok é reconhecido por seu ativismo especialmente em relação à causa ecológica – já fez shows com participação de indígenas e, recentemente, doou o cachê de um show para os flagelados pela seca na Amazônia.