Alberto Gaspar, ex-Globo, vai apresentar o programa Legião Estrangeira na TV Cultura

13 fevereiro 2022 às 00h02

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O jornalista vai entrevistar correspondentes estrangeiros e brasileiros. Eles poderão contar as histórias inéditas de seu trabalho no exterior

Há repórteres que, mesmo quando não querem, são mestres. E são mestres pela competência — reportagens bem-feitas — e pela empatia. É o caso de Alberto Gaspar, que, durante anos, brilhou nos telejornais da TV Globo. As reportagens do profissional, mesmo as mais comuns, sempre atraíam o olhar do telespectador. Porque ele infundia um brilho especial, digamos um calor humano, a respeito do que estava narrando. Tanto reportou temas brasileiras quanto do Oriente Médio (era correspondente em Jerusalém) e da Argentina (e países vizinhos).
Mesmo sendo um repórter brilhante, que a idade — a formação — apurou, Alberto Gaspar foi demitido pela Globo (perdemos nós, perdeu a rede). Tempos difíceis para os jornalistas e, também, para as empresas. Com a audiência cada vez mais dividida, portanto com a hegemonia posta em questão, e menos recursos financeiros, as empresas de comunicação, notadamente aquelas com estruturas maiores e mais dispendiosas, estão enxugando despesas. Para manter a margem de lucro, e garantir a sobrevivência, estão demitindo a rodo. Pode ser uma saída suicida? Talvez sim. Recentemente, num debate sobre a crise entre a Rússia e a Ucrânia (que as potências mundiais, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, estão deixando à mercê de Vladimir Putin, o perigoso czar do KGB-FSB), pelo menos dois comentaristas diziam o óbvio, abobrinhas da Babilônia, e apenas Demétrio Martinelli Magnoli, de 64 anos, fazia análises pertinentes. O que decorre de sua formação (é doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo) e experiência.

Bons profissionais sempre voltam ao mercado. Alberto Gaspar vai apresentar toda quarta-feira, às 22 horas, o programa “Legião Estrangeira”, na TV Cultura. Será um relançamento. A direção será de Ney Marcondes. O programa será levado ao ar a partir de quarta-feira, 16.
Alberto Gaspar vai entrevistar correspondentes estrangeiros que trabalham no Brasil e repórteres brasileiros que foram ou são correspondentes estrangeiros. José Hamilton Ribeiro (também demitido da Globo), que reportou a Guerra do Vietnã para a revista “Realidade” e, no país dos vietcongues, perdeu uma perna, será um dos entrevistados.
A ideia do programa é levar os correspondentes a contarem fatos que divulgaram nas reportagens, mas também fatos que colheram mas não publicaram a respeito do Brasil. Os correspondentes patropis poderão relatar aquilo que “não” coube nas reportagens. Além de evidenciar os bastidores de seus trabalhos.
Ao Portal dos Jornalistas, numa reportagem de Victor Félix, Alberto Gaspar disse: “A vida de correspondente no exterior é puxada, mas muitas vezes prazerosa. Na vida pessoal, percebo como as pessoas gostam de ouvir pequenas histórias pessoais nunca publicadas. Bastidores de coberturas. Vamos botar na roda de conversa”.
Pequenas histórias que, na verdade, às vezes são grandes histórias. Historiadores franceses (e não só, claro), ao contarem as histórias do cotidiano, que eram negligenciadas — optando-se pelo registro das grandes estruturas —, descobriram que acabam por mostrar um imenso painel da sociedade.
De resto, importante mesmo é saudar a volta do repórter Alberto Gaspar, um gigante do jornalismo, às telas. Desde já, imperdível — assim como as entrevistas do “Roda Vida” (na última edição, Ruy Castro concedeu ótima entrevista, ligeiramente acuado, de maneira civilizada, pelo doutor em literatura Manuel Costa Pinto. O notável biógrafo e jornalista comportou-se, espertamente, como provocador. No fundo, no seu último livro, descobriu autores “modernos”, ainda que não modernistas, que eram “menores” e, depois de sua pesquisa, permanecem “menores”. Mas Castro escreve tão bem, muito mais do que fala, que a gente começa a pensar que J. G. de Araújo Jorge é quase um Carlos Drummond de Andrade ou um João Cabral acriano. O escritor diz isto? Não. Mas, ante o que revela sobre os “modernos” do Rio, poderia ter dito.