55 jornalistas foram assassinados em todo o mundo em 2021

09 janeiro 2022 às 00h02

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87% dos assassinatos, desde 2006, permanecem impunes. Na América Latina, o México é o país mais letal. No Haiti dois jornalistas foram queimados vivos
Costumava-se dizer: antes os poderosos matavam jornalistas e hoje não matam — só processam, com o objetivo menos de esclarecer fatos e mais de intimidar os profissionais e os meios de comunicação. Pois, na verdade, não é bem assim. Jornalistas continuam sendo assassinados em vários países.
Relatório divulgado pelo Observatório de Jornalistas Assassinados — da Unesco — na quinta-feira, 7, revela que 55 jornalistas foram assassinados em 2021. Foi o menor número em uma década, mas, ainda assim, é alto. Quatorze deles foram mortos na América Latina-Caribe e 23 na Ásia. Não houve mortes no Brasil, mas jornalistas foram agredidos física e verbalmente. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, é contumaz em agressões verbais a jornalistas, inclusive mulheres.

A diretora-geral da organização, Andrey Azoulay, denunciou que os jornalistas pagaram um alto preço — a perda da vida — por terem trabalhado para “expor a verdade”. “O mundo precisa de informações factuais e independentes”, afirma. Ela frisa que, em decorrência da impunidade, há um incentivo para novos crimes. A Unesco informa que “87% dos 1.284 assassinatos de jornalistas registrados em todo o mundo desde 2006 continuam sem solução”.
Em Porto Príncipe, no Haiti, o jornalista John Wesley Amady, da Rádio Écoute FM, foi baleado e queimado vivo por integrantes da gangue Ti Makak. Ele denunciava as atividades criminosas desse e de outros grupos. Outro jornalista também foi queimado vivo. Tentaram matar outro repórter, mas ele escapou.
A atividade jornalística no México é uma das mais perigosas do mundo. Aqueles repórteres que investigam e denunciam os traficantes de drogas correm sérios riscos de serem assassinados. O país do poeta Octavio Paz é um dos mais letais do mundo para jornalistas. É equiparado ao Afeganistão.
O repórter Sai Win Aung foi assassinado em Mianmar, no dia 25 de dezembro de 2021. Ele fazia a cobertura da situação de um grupo de refugiados, no Estado de Kayin. No mesmo país, Soe Naing, ao tirar fotos de uma “greve silenciosa” de oposicionistas, foi preso. Os dois teriam sido vítimas, um não letal, das forças militares que usurparam o poder em fevereiro de 2021. Não há liberdade de imprensa no país
Na Argentina, nação democrática, três jornais sofreram atentados em 2021. Um deles é o diário “Clarín”, o mais importante do país. No país das poetas Silvina Ocampo (também prosadora) e Alejandra Pizarnik, o jornalista Santiago O’Donnell publicou um livro, em 2020, a partir de gravações com o empresário Mariano Macri, irmão do ex-presidente Mauricio Macri. Agora, um tribunal o pressiona a entregar as gravações. Se não repassá-las, terá de pagar uma multa de 67 mil dólares — cerca de 377,88 mil reais. “A decisão mina descaradamente a liberdade de imprensa” e abre “um precedente terrível”, afirma Natalie Southwick, coordenadora do programa do CPJ para a América Latina e o Caribe.