5 jornalistas que fizeram a diferença na luta pela democracia nos últimos 4 anos

30 outubro 2022 às 00h00

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Em um regime de exceção, a imprensa é sempre uma das instituições que mais sofrem. Diante de um sujeito que quando parlamentar exaltou a ditadura, disse que “daria golpe no mesmo dia” se eleito presidente, homenageou torturador no plenário da Câmara e que, chegando à Presidência, flerta com o golpismo, promove a desobediência civil e ataca as instituições como parte de sua rotina, o jornalismo precisa estar atento e forte, como diria a boa e velha música de Caetano e Gil.
Não importando o resultado das urnas neste domingo, 30, alguns profissionais da comunicação reconhecidos no País foram bravos, cada um a seu modo, na defesa do Estado democrático de Direito. Citando cinco deles aqui, esta coluna homenageia todos os colegas que entenderam a gravidade da conjuntura e fizeram sua parte na busca por sustentar a institucionalidade e o modo civilizatório do País.
Marco Antônio Villa

Um dos mais consagrados antipetistas da TV brasileira – é comentarista do Jornal da Cultura há muitos anos –, o historiador sempre foi um crítico feroz de Luiz Inácio Lula da Silva, utilizando palavras como “criminoso” e chefe de quadrilha” para se referir ao ex-presidente. Adotou também, desde o início do governo Bolsonaro, uma posição dura com o atual presidente, que foi se intensificando com o tempo. A pandemia foi o ponto de virada para ele, que fez de seu canal no YouTube um fórum de discussão sobre a democracia em meio à crise sanitária.
Mordaz, criou o apelido de “mandrião” para Bolsonaro, pelo fato de trabalhar pouco como presidente. Foi candidato a deputado federal em São Paulo pelo Cidadania, obtendo 95.745 votos e ficando como suplente. Evitou declarar quem estaria apoiando no primeiro turno, mas, no segundo turno, não tergiversou: confirmou voto em Lula. “Eu tenho um histórico de embate no campo democrático, ideológico, com Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a eleição agora não é para a vitória do PT. É para vitória de ampla frente democrática contra o nazifascismo bolsonarista.”
Maurício Ricardo

Ele ficou conhecido nacionalmente por suas charges que descontraíam as primeiras edições do Big Brother Brasil. Em 2018, envolvido pela questão política, decidiu se abster de votar no segundo turno. Até hoje se arrepende da decisão, mas durante todo o mandato de Bolsonaro, principalmente a partir da crise da pandemia, mostrou-se crítico ao governo. Para não misturar os trabalhos, além do canal para seu ofício original – o Charges.com.br, com mais de 2,6 milhões de inscritos –, tem também o Fala MR, em que discorre (geralmente) sobre política.
Os vídeos que faz, em ritmo quase que diário, são notabilizados por um texto claro e sensato e um tom sempre amigável, o que facilita a empatia e a comunicabilidade. Logo depois do primeiro turno, foi responsável por escarafunchar os arquivos e resgatar o vídeo em que Bolsonaro contava ao New York Times, como se fosse vantagem, a vontade de ver um índio sendo cozinhado em sua experiência de quase canibal, em Roraima.
Miriam Leitão

Quase septuagenária, a jornalista especializada na área econômica carrega em sua história pessoal as marcas dos piores anos da ditadura cívico-militar no Brasil: em 1972, como militante do Partido Comunista do Brasil, foi presa e torturada física e psicologicamente. Em seu relato, diz que, entre outras aberrações, foi colocada nua em uma sala escura em que também estava uma jiboia.
Miriam, que já chegou a ser alvo de insultos de militantes petistas em um voo, considera o bolsonarismo algo fora de qualquer escopo de discussão sobre democracia. E, nesse ânimo, tem feito oposição ao presidente desde quando ele era ainda candidato. Recebeu o troco, várias vezes, sendo o mais bizarro quando o deputado federal Eduardo Bolsonaro, compartilhando uma postagem da jornalista, disse ter “pena da cobra” – fazendo clara alusão à tortura sofrida por ela.
Pedro Doria

Desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT), Pedro Doria é sempre um dos jornalistas mais visados pelo campo da esquerda nas redes sociais – as quais ele usa bastante. Jornalista experimentado, foi considerado um dos membros do chamado “PiG”, sigla para “Partido da Imprensa Golpista”. Com o canal Meio, que também abre portas para um maior conhecimento do mundo digital, Doria deu especial destaque à questão da defesa da democracia.
Liberal confesso, ele entende que jornalista não deve declarar voto – uma lição que diz ter assimilado de colegas estadunidenses quando estudou na Universidade de Stanford (EUA). Entretanto, juntou todas as forças e personalidades que pôde para combater Jair Bolsonaro, por considerá-lo o exemplo perfeito do político iliberal delineado em Como as Democracias Morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.
Reinaldo Azevedo

Se tem alguém que não pode ser “acusado” de petista é ele. Reinaldo Azevedo é autor do livro No País dos Petralhas, termo que ele próprio cunhou para se referir aos militantes do partido que esteve no poder desde 2003 e cujas ações no governo foram duramente criticadas pelo jornalista, que à época trabalhava na revista Veja e na Rádio Jovem Pan. A improvável trajetória de maior desafeto a queridinho da esquerda se decorreu ao longo de pelo menos sete anos, desde quando foi pioneiro em duras críticas ao modus operandi da Lava Jato – em particular ao então juiz Sergio Moro – até ao colocar seu programa O É da Coisa, na BandNews, a serviço da discussão do governo Bolsonaro e da defesa das instituições e da ciência, em particular durante a pandemia.
Intelectual e rábula, nada modesto, “Tio Rei”, como passou a ser chamado costuma colocar músicas e citações literárias para incrementar seus comentários na rádio. Também adentra com autoridade na seara do direito – a ponto de ter desafiado Moro a mostrar em que página de sua sentença estava a prova contra Lula no processo do tríplex do Guarujá (SP).