4 livros para entender a China, o país que vai superar os Estados Unidos

05 junho 2023 às 22h02

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Matéria originalmente publicada em 11 julho 2021
A China é habitada por 1,4 bilhão de pessoas. Não é uma democracia, e sim uma ditadura comunista. Lá prevalece o sistema de um único partido, o Comunista. O governo controla a imprensa e a vida dos indivíduos com mão de ferro. Mas é o maior fenômeno econômico do século 20 — tendo o segundo maior PIB global, atrás apenas dos Estados Unidos.
“Sobre a China” (Objetiva, 560 páginas, tradução de Cássio de Arantes Leite), de Henry Kissinger, é uma introdução qualificada a um país que, apesar da unidade, contém, de certas maneiras, vários povos e culturas. Ao relatar sua história milenar, o autor mostra porque o país se tornou tão poderoso.

“A Caminho da Guerra — Os Estados Unidos e a China Conseguirão Escapar da Armadilha de Tucídides?” (Intrínseca, 411 páginas, tradução de Cássio de Arantes Leite), de Graham Allison, sugere que as duas nações estão à beira de um conflito armado. Na prática, estão em campo numa briga econômica feroz. O professor de Harvard sugere caminhos para evitar uma batalha destrutiva.
Graham Allison mostra que a China que produzia bugigangas é coisa do passado. Claro, permanece produzindo e dominando as ruas e camelódromos globais. Mas deu o salto qualitativo. “A China viu sua parcela de valor agregado global total em produtos de alta tecnologia aumentar de 7% em 2003 para 27% em 2014. (…) O supercomputador mais veloz do mundo não é encontrado no Vale do Silício, e sim na China. No ranking dos quinhentos supercomputadores mais rápidos do mundo — lista da qual a China estava ausente em 2001 —, 167 são da China, dois a mais do que os Estados Unidos. O melhor supercomputador chinês é cinco vezes mais rápido do que o computador americano que mais se aproxima dele.”
O mestre de Harvard acrescenta: “Em 2015, a Universidade Tsinghua passou o MIT no ranking do U. S. News & World Report e virou a universidade número um do mundo em engenharia. Das dez principais faculdades de engenharia, quatro estão na China e quatro estão nos Estados Unidos”. A China também criou um Banco Mundial e atua tanto na Ásia quanto na África.

Agora sai em português mais uma obra importante: “A China de Deng Xiaoping — O Homem Que Pôs a China na Cena do Século XXI” (Nova Fronteira, 368 páginas), de Michael E. Mart. Ao contrário do irrealismo de Mao Tsé-tung — o chinês que, até no nome, nasceu “Mau” —, um dos seguidores de Stálin, Deng Xiaoping (1904-1997) era de um realismo absoluto. Percebeu que, se não introduzisse mudanças para modernizar o país, o comunismo ruiria. O planejamento socialista não funcionava, era avesso à realidade dos homens reais, e era preciso adotar ideias capitalistas para, digamos, fazer a economia avançar e, por conseguinte, manter o sistema de partido único.
Combatido pelos conservadores, Deng Xiaoping salvou, de uma tacada, a China e o comunismo. O resultado é que, se não há liberdade individual, há o mínimo de liberdade econômica — o que possibilitou o país se tornar o segundo mais rico do planeta, e aproximando-se cada vez mais dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos “inventaram” Donald Trump — o homem que usa a boca como “big stick” — para enquadrar a China, para segurar seu crescimento e retomar a própria expansão econômica. Não deu muito certo. Então, o país de William Faulkner e Joyce Carol Oates decidiu trocá-lo por Joe Biden. Se a retórica guerreira não funcionou, os ianques optaram, com o democrata, por uma linguagem mais suave. Entretanto, nos bastidores — e, evidentemente, não apenas nos bastidores —, a guerra continua. O Tio San e a terra de Moy Yan e Ma Jian são, mais do que adversários, verdadeiros inimigos. A tendência é que, a longo prazo — talvez a médio —, os americanos sejam superados, em termos de PIB, pelos chineses. A missão de Joe Biden, concedida pelo Império — please, não imagine o “filho” de Franklin D. Roosevelt como um político de esquerda, pois não é (ainda assim, é superior a Trump) —, é “segurar” a China. O ator Tom Cruise certamente dirá: “Missão impossível”. O país mais rico e poderoso do mundo será, um dia, uma ditadura — o que parecia impensável. O crescimento, seguido de desenvolvimento, acabará por tornar a China democrática? Talvez. Talvez. Talvez.

Há um novo livro na praça: “China Contemporânea — Seis Interpretações” (Autêntica, 208 páginas), organizado pelo filósofo Ricardo Musse, professor da USP, e com ensaios de Alexandre de Freitas Barbosa, Alexis Dantas, Bruno Hendler, Elias Marco Khalil Jabbour, Francisco Foot Hardman, Luiz Enrique Vieira de Souza, Wladimir Pomar. Entrou para minha lista penelopiana. A rigor, estou lendo o ensaio de Hardman.
Release da editora: “A trajetória recente da China não cessa de causar admiração. O mundo acompanha atônito seu impressionante desenvolvimento econômico, a transformação de sua manufatura em oficina do mundo, o surgimento de cidades monumentais que brotam do nada, conectadas entre si por trens de alta velocidade.
“Essa nova potência comercial, industrial e financeira desperta sentimentos contraditórios, mas também muitas indagações: como ela consegue combinar uma economia de mercado com um sistema político fechado, o planejamento estatal com a livre-iniciativa de gigantescas empresas privadas? O que pretende com a “Iniciativa Cinturão e Rota”? Quais são os efeitos dessa modernização acelerada e tecnológica sobre a vida cotidiana?

“Este livro se propõe a fornecer respostas para essas e outras questões. O leitor encontrará aqui explicações sobre a gênese, o desenvolvimento e o futuro da China; interpretações sobre as características principais da economia, da sociedade, da vida política e da cultura do país-continente.
“Os ensaios foram redigidos por destacados analistas brasileiros, um grupo selecionado por suas contribuições relevantes e originais, resultantes de estágios de pesquisas no território chinês.”
Ah, sim: não tire seu filho da escola de inglês, mas pense numa segunda língua estranja — o mandarim.