Voo 2283: Não culpe o ATR-72 antes das conclusões oficiais da investigação
12 agosto 2024 às 11h27
COMPARTILHAR
Logo após o acidente com o voo 2283 da Voepass, ocorrido na sexta-feira, 9, em Vinhedo, no interior de São Paulo, a imprensa já encontrou um “culpado” para a tragédia: o ATR-72. O modelo de fabricação europeia está sendo amplamente questionado em diversas matérias sobre sua segurança, e alguns textos até citam a opinião de um influencer de viagens que considera “arriscado” voar neste avião.
Embora ocorram especulações imediatas sobre a causa do acidente, é importante lembrar que as investigações estão apenas começando. Até o momento, os investigadores ainda não recuperaram os dados de voo e a gravação do áudio da cabine das caixas pretas. Investigações de acidentes aéreos costumam levar meses para serem concluídas.
Atualmente, a hipótese mais discutida é a formação de gelo nas asas, que pode ter comprometido a sustentação da aeronave. Contudo, se essa for realmente a causa, ainda será necessário entender toda a cadeia de eventos que levou a isso e por que o avião entrou em estol, resultando em uma perda de controle.
Vale lembrar que o ATR-72 é uma aeronave certificada e segura para operar em condições de formação de gelo. Apesar de alguns acidentes anteriores envolvendo acúmulo de gelo, o modelo passou por melhorias e a indústria aérea aprendeu com essas tragédias, implementando mudanças estruturais e nos procedimentos de segurança.
Todos os dias, milhares de voos com aeronaves da ATR decolam e pousam sem problemas em várias partes do mundo, tanto em regiões quentes como América Latina e Oriente Médio quanto em locais mais frios, como Europa e Ásia. A formação de gelo nas asas não é exclusiva de áreas geladas, já que as temperaturas de voo são abaixo de zero e podem incluir trajetos com condições propensas à formação de gelo.
O objetivo deste texto não é apontar causas ou a cadeia de eventos do acidente, uma responsabilidade que cabe ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). O ponto crucial é que não devemos “culpar” um modelo de avião antes de compreendermos totalmente as causas do acidente. O mesmo vale para a empresa aérea e a tripulação do voo 2283.
Se a imprensa apressar o julgamento, pode acabar criando uma nova “onda de pânico”, semelhante ao que aconteceu com o Fokker 100 após o acidente com o voo 402 da TAM em 1996. Naquela ocasião, o avião caiu pouco depois da decolagem do Aeroporto de Congonhas, resultando em 99 mortes, incluindo três em solo. O acidente foi causado por uma falha no reversor, ativado indevidamente devido a erro de manutenção, além de falta de treinamento adequado e ausência de alertas na cabine.
Apesar das melhorias feitas no Fokker 100 após o acidente, o modelo sempre foi considerado seguro, mas a percepção negativa levou a um boicote aos voos com essa aeronave. Essa situação pode ser problemática para o ATR-72, um modelo crucial para voos em aeroportos menores que não recebem aeronaves de maior porte.
A principal vantagem desse turboélice é a sua versatilidade, permitindo operações em aeroportos menos equipados e até em pistas de terra. Além disso, os modelos são econômicos e de alto rendimento, gerando menores custos de operação. A perda dos ATRs poderia impactar negativamente as opções de transporte no Brasil.
Leia também:
Insatisfação global com reeleição de Nicolás Maduro pode ser gatilho para novo conflito armado
Disparos contra Trump demonstram a fragilidade da democracia estadunidense