Neste domingo, 2, Goiânia volta a sediar um dos festivais sertanejos que ajudou a firmar o gênero como hegemônico para além do Centro-Oeste. Milhares de pessoas se reúnem para viver a experiência sertaneja (no caso, o combo bebida e música caipira que hoje nem é mais tão capira assim). E isso nos leva a uma reflexão: goste ou não, o sertanejo é o soft power dos goianos. Não entendeu? Eu explico.

O “poder suave”, na tradução literal, é uma expressão tirada da teoria das relações internacionais que descreve a habilidade de influenciar de forma indireta o comportamento e/ou interesses de outrem por meio da cultura e/ou ideologia. Assim, pode-se afirmar que Goiás domina o Brasil pela música. Vamos aos exemplos e acompanhe o raciocínio.

Do São João de Caruaru ao Carnaval na Sapucaí, passando pelo trio elétrico em Salvador, há espaço – e de destaque – para a moda de viola. Enciumados, representantes de outros ritmos cobram – e com razão – mais participação e representatividade em suas festas populares.

Por muito anos esquecido pelas rádios do eixo Rio- São Paulo, o sertanejo hoje tem espaço garantido nas programações. Ouvir moda de viola já não é uma tradição apenas da capital do sertanejo (sim, oficialmente Goiânia tem esse título). Antes, jovens tinham até uma certa vergonha de assumirem gostar de gênero. Hoje, vergonha é não curtir.

Mas o que fez do sertanejo essa unanimidade brasileira? Não há uma única resposta para essa pergunta, mas o caminho para desvendar o segredo do sucesso é o formato híbrido que o gênero adotou nos último 10 anos. Para ter melhor aceitação no Sudeste, pagonejo ou funknejo foi a solução. No Nordeste, a mistura com o piseiro e o bregafunk também ajudou.

As mulheres também têm conseguido, pouco a pouco, mais espaço e estão conquistando o público com o feminejo, que traz a ótica feminina ao gênero que hoje também canta a dor e a delícia de ser mulher.

No ranking das músicas mais ouvidas nas plataformas digitais, só dá sertanejo, coroado o gênero mais ouvido do país. E nessa realeza, há espaço para a rainha Marília Mendonça, para o embaixador Gusttavo Lima, pro coronel Marrone e pra tantos outros nobres colegas que levam no gogó a tradição goiana.

Fato é que o gênero conseguiu de reinventar sem deixar de ser popular. Hoje bebe de todas as fontes e as violas convivem bem com os atabaques do axé e as guitarras do rock ’n’ roll. Críticos da estética sertaneja não faltam, mas, mesmo assim, é preciso reconhecer: fora do Estado, falar de sertanejo é falar de Goiás (ou pelo menos de boa parte dele).