O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade), exonerou mais de 1.900 servidores comissionados na manhã desta terça-feira, 8. Após desempenho abaixo do esperado no 1° turno das eleições municipais (que aconteceu no domingo, 6), o atual gestor publicou no Diário Oficial do Município a exoneração de 1.952 servidores.  

Foram demitidos, sem nenhum tipo de aviso prévio, técnicos, assessores, indicações, supervisores e até secretários. Entre as indicações políticas, os servidores que conquistaram sua vaga por mérito, e os apoiadores que balançavam bandeiras com o rosto de Cruz na sexta-feira anterior ao pleito, todos foram mandados para rua após os catastróficos 3,14% dos votos conquistados no domingo. 

Entre os exonerados estão: Eduardo Vinicius Peixoto, ex secretário municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), Wesley Kennedy Amaral De Carvalho, titular da Secretaria Extraordinária de Modernização e Gestão de Projetos (SMGES), Jorge Da Silva Pereira, ex-secretário municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS), e a Superintendente de Gestão da Rede e Inovação Educacional, Clarislene Paula Domingos.

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Serviços à população (de saúde, inclusive), prestação de contas, diálogo com a imprensa, planejamento e a manutenção de funções básicas e obrigatórias do município ficam comprometidas com a demissão em massa. 

O episódio lembra a tentativa frustrada da primeira-dama, Thelma Cruz (Republicanos), de se eleger deputada estadual em 2022. Após a derrota nas urnas, uma nova onda de desonerações se seguiu. 

Não se sabe se o atual prefeito de Goiânia usa os servidores da Prefeitura como bode expiatório quando precisa de alguém para culpar por seus fracassos, ou se apenas desconta sua raiva e frustração em quem consegue. O que fica claro é o desrespeito com aqueles que contribuíram cotidianamente com seu projeto de governo. 

A pergunta que fica é: quais os planos de Rogério Cruz para os quase três meses que sobram de seu governo? 

Enquanto isso

Enquanto o prefeito, que substitui o finado Maguito Vilela, se sente confortável o suficiente para deixar a Prefeitura com quase dois mil funcionários a menos, diversos pontos da administração pública municipal estão em estado crítico. 

Durante vistorias feitas pelo Ministério Público nas unidades de saúde do município, foram constatados: uso indevido dos repasses vindos do Ministério da Saúde, greve dos anestesistas da Santa Casa, paralisação do atendimento a pacientes de hemodiálise, esperas prolongadas por vagas de internação, condições precárias em salas vermelhas, pacientes de sexos diferentes dividindo o mesmo ambiente, ausência de mecanismos de segurança e falta de alguns insumos e medicamentos. 

Houve também polêmica envolvendo o afastamento do secretário de saúde, Wilson Pollara, após tentativa de modificar o funcionamento do SUS em Goiânia. Na época, o Tribunal de Contas do Município recomendou o afastamento do gestor após encontrar irregularidades nos projetos enviados ao tribunal envolvendo o SUS. Os servidores, que entraram em greve acusando tentativa de privatizar o serviço, compartilharam escalas mostrando apenas 4 ou 5 ambulâncias circulando em toda a capital. 

Agora, após a exoneração em massa após as eleições, os usuários do Upavet (serviço de atendimento da prefeitura aos animais) denunciam que a unidade está parada. “O Prefeito exonerou todos os servidores da Upavet, paralisando serviços essenciais, o que acarreta em mortes de animais que eram atendidos no local”, desabafam representantes da causa animal em seus perfis nas redes digitais.  

O Jornal Opção entrou em contato com o Secretário de Saúde, Wilson Pollara, a fim de colher nota sobre a situação envolvendo a pasta. Como resposta, o gestor disse não estar autorizado a conceder entrevista e desligou o telefone de imediato.

Vale lembrar que, também neste ano, foram levantadas suspeitas de corrupção dentro da Comurg, com atraso nos repasses da Prefeitura e contratação milionária de terceirizados para limpeza de Goiânia. Com afastamento do presidente da Comurg e de seus secretários, o rombo na companhia de limpeza urbana se traduziu até mesmo em atrasos na coleta de resíduos, acumulando lixo na porta dos moradores por quase uma semana.

Os sinais de ineficiência da atual gestão se acumulam tanto nas redes digitais, quanto na justiça e no cotidiano da população. Enquanto isso, agindo com desrespeito pela população, Cruz parece ter como intuito se vingar daqueles que não ajudaram em sua eleição, de sua esposa e seu filho (todos os três derrotados nas urnas).