Música, teatro e literatura sempre foram e sempre serão trincheiras de resistência e comunicação política

04 outubro 2025 às 17h51

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Tentar separar cultura e política é, antes de tudo, de uma ingenuidade sem tamanho e alma. Sem coração. Daquele ingenuidade de acreditar que cultura é futilidade e não o traço que mais nos torna humanos. A música, em especial, expressa não apenas o entretenimento, é uma linguagem de comunicação potente, é afirmação de identidade e resistência contra as tolices e o autoritarismo. Não à toa, artistas brasileiros foram perseguidos, censurados e exilados.
Durante a ditadura militar, que torturou e matou opositores, a resistência cultural se fez importante para manter o sentimento vivo na população e alimentar a alma. A censura não perseguiu apenas discursos parlamentares ou panfletos políticos, mas foi implacável contra músicos, poetas, dramaturgos, cineastas e jornalistas. Se cultura fosse apenas lazer, por que incomoda tanto? O alvo era claro: a arte que questionava, que denunciava, que mantinha viva a chama da rebeldia em tempos de silêncio imposto.
Os exemplos históricos são abundantes. Já beirando o final dos anos 1960, a Tropicália rompeu fronteiras e misturou guitarras elétricas com ritmos nacionais, confrontando a caretice cultural e o conservadorismo político. A canção latino-americana, por sua vez, ecoava em países que também enfrentavam ditaduras, dando voz a povos inteiros que não podiam se expressar livremente.
A política não acontece apenas em discursos longos ou mesas de negociação. Ela pulsa nos batuques de uma bateria, nos cantos que ecoam em passeatas, nos jograis que se repetem em coro. Engajar-se politicamente também é celebrar junto, ocupar o espaço público, sentir-se parte de uma coletividade. Mesmo quando não se fala diretamente de “política”, ela está presente — porque a reunião em torno da música e da arte já é, por si só, um ato político.

Os encontros culturais fortalecem as pautas e criam vínculos de pertencimento. É na praça, no bar ou nos festivais que muitas vezes se forjam consciências críticas. Ontem mesmo, assistindo a um cover de Pink Floyd no bar da Tia, Tio e Primo na Praça Universitária em Goiânia, senti isso na pele. Foi do caralho: uma noite memorável, de tantas que mostram que Goiânia pulsa cultura. O rock, assim como tantas outras expressões, é mais do que música — é catarse, é denúncia, é questionamento. Ver uma praça cheia de gente vibrando, trocando energia, é prova viva de que a cultura goiana está pujante e segue sendo motor de encontros e reflexões.
Portanto, não se trata de escolher entre política “séria” e cultura “festiva”. Trata-se de reconhecer que a cultura é uma das formas mais sérias, poderosas e rebeldes de fazer política. É por isso que multidões se encontram em torno dela. Música, teatro e literatura sempre foram — e sempre serão — trincheiras de resistência.
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