FGF comprou uma briga que não pode vencer e ainda prejudica seus profissionais da arbitragem
10 agosto 2023 às 16h32
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A Federação Goiana de Futebol (FGF) é cobrada constantemente por seus filiados, principalmente Atlético-GO, Goiás e Vila Nova, por apoio e defesa no âmbito nacional. Até aqui, tudo bem, é natural que uma federação local intervenha por seus clubes, já que teoricamente tem mais fácil acesso à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por exemplo. O problema é como faz.
No dia 23 de julho, em partida válida pela 16ª rodada do Campeonato Brasileiro, o Goiás venceu o Cruzeiro por 1 a 0, no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Apesar do triunfo, a equipe esmeraldina saiu de campo reclamando de um pênalti não marcado a favor.
O Esmeraldino já havia criticado veementemente a arbitragem em outros jogos, como na derrota para o Santos por 4 a 3 em rodada anterior. Entretanto, a FGF resolveu se posicionar e defender o seu filiado [o que na minha opinião está certo, volto a dizer]. Mas, ao invés de adotar uma prática mais diplomática e tratar do assunto internamente, a federação publicou nota oficial em seu site e redes sociais criticando a arbitragem do jogo Cruzeiro x Goiás. E é aqui que está o problema: a FGF comprou uma briga que não pode vencer.
Explico: a história nos ensina que é mais prudente tentar resolver pendências pelo diálogo, de forma mais diplomática possível. Apesar de parecer simples, a nota oficial da FGF foi uma espécie de “guerra declarada” à CBF, que não digeriu isso muito bem. Ao que parece, até a própria Federação Goiana percebeu o estrago feito, já que apagou a nota de seu site oficial e redes sociais, mas já era tarde demais.
Consequências
Primeiro que o árbitro não erra porque quer contra uma determinada equipe, como sugere o próprio Goiás, de que há uma espécie de complô contra o clube. Besteira. Frequentemente, as equipes costumam apontar e criticar apenas quando os erros são contra suas equipes [e esse não é um problema apenas do Goiás, mas do futebol brasileiro como um todo]. Isso sugere, na minha opinião, que esses clubes estão interessados de verdade no benefício próprio e não em uma arbitragem melhor.
Segundo que emitir uma nota dessas publicamente tem um efeito prático quase que nulo. Visto que o próprio Goiás voltou a reclamar da arbitragem na última rodada do Brasileirão, desta vez na vitória por 1 a 0 contra o Fortaleza, na Serrinha, em Goiânia. O papel da FGF em defender seus filiados não é emitir nota oficial por conta de erros de arbitragem. Ora, isso é do futebol e erros acontecem com todos os clubes. A minha sugestão de solução diplomática é a federação dialogar com a CBF soluções para melhor qualificar o quadro como um todo, levar as demandas de seus filiados a respeito de investimentos, divisão de cotas mais justas, formas de tornar as competições mais atraentes para torcedores e empresas. Enfim, não vou aqui ensinar o padre a rezar missa.
Em terceiro, essa história toda parece ter sobrado para os profissionais da arbitragem goiana, pertencentes ao quadro da FGF. Desde a nota emitida, nenhum, repito, NENHUM profissional da arbitragem goiana, seja árbitro, assistente, assessor, VAR, foi escalado novamente. Isso vale para todos os jogos em que a CBF é a responsável: Campeonato Brasileiro séries A, B, C e D, além das competições de base. Em escalas que era comum profissionais goianos trabalharem, a CBF tem colocado pessoas do quadro do Distrito Federal (DF).
Profissionais como os ex-árbitros Cleiber Elias e Antônio Pereira da Silva, que frequentemente estavam escalados como assessores, não trabalharam mais depois da nota da FGF. Profissionais locais que costumam trabalhar como quarto árbitro também não foram mais escalados, apenas pessoas do DF. Em competições de base, que é comum a CBF também escalar árbitros locais, também são profissionais do DF que estão trabalhando nos jogos em Goiânia.
Em pesquisa no site da CBF, o último jogo em que teve um quadro goiano em campo foi em Atlético-GO 1×2 Santos, pelo Campeonato Brasileiro Sub-17, no último dia 26 de julho. Trabalharam o árbitro Artur de Morais Fernandes, os assistentes Tiago Gomes da Silva e Paulo Cesar Ferreira de Almeida, o quarto árbitro, Gabriel dos Santos Queiroz, e o analista de campo, Adailton Fernando Menezes.
Além deles, apenas os profissionais Wilton Pereira Sampaio, Bruno Raphael Pires [que estiveram na Copa do Mundo FIFA 2022] e Fabrício Vilarinho da Silva estiveram em campo no período mencionado, mas por competições em que a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) é a responsável.
A FGF não pode ganhar essa briga. Pelo visto percebeu e apagou a nota. Veremos se será o suficiente para os profissionais goianos voltarem a trabalhar.
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