Já canta há décadas nossa querida Simone: “Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez”. Não há brasileiro que não conheça essa canção, que desde a década de 90 prega o espírito benevolente e de renovação do Natal. Mas se por um lado a música tem uma melodia tranquila e serena, quase como uma balada de ninar, talvez não sejam esses os ares de muitas ceias natalinas neste ano, e a possível perturbação da festa de Cristo (por mais que muitos não se lembrem que, sim, celebramos o símbolo máximo do Cristianismo nessa época) tem um nome: política.

Uma pesquisa recente do instituto DataFolha mostrou que, um ano após a eleição que deu a vitória ao atual presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, 25% da população ainda se declara “bolsonarista raiz”, enquanto 29% se afirma “100% petista”.

Bem, era de se esperar que a polarização política, que marcou as urnas, os debates, encontros de amigos, conversas no trabalho e até as filas do supermercado, perdurasse por algum tempo após o desfecho do último pleito. Mas o que surpreende (ou talvez não?) é que, mesmo chegando ao final do primeiro ano de mandato do atual presidente, vemos as redes sociais e as notícias políticas abastadas com discussões e comentários em tom de campanha: de um lado, bolsonaristas quase comemorando cada mau número, cada informação negativa a respeito do governo. Do outro, petistas e apoiadores de Lula “jogando na cara” e alfinetando a gestão anterior por cada avanço – seja ele grande ou pequeno – do chefe do Executivo federal.

Eu não seria hipócrita e nem me arriscaria em pedir e esperar que houvesse “paz e união” entre a direita bolsonarista e a esquerda petista após as eleições, mas seria natural que a polarização, com o tempo, perdesse força. O que, aparentemente, não está acontecendo.

Ao que tudo indica, estamos fadados a ficar permanentemente em clima de corrida eleitoral, como se cada comentário lançado na internet ou a algum amigo ou parente fosse essencial para garantir o voto dele no candidato preferido para daqui a 3 anos – ou pior: como se eles fossem indispensáveis para tentar fazer com que o apoiador rival se arrependesse amargamente do voto dado na urna em 2018 e 2022.

As ceias deste ano prometem ser animadas. Espero, com sinceridade no coração, que os ânimos sejam de alegria e alívio por todos ali presentes ao redor da mesa terem chegado vivos e bem ao final de mais um ano – o que, no final das contas, é exatamente a única coisa que importa. Porém, receio que minha certeza sobre isso seja mais fraca que a dúvida.

Ainda dá tempo de responder ao questionamento da nossa Simone, apesar do quão clichê ele possa parecer: é Natal, e o que você fez? O que fez para sair desse looping de rivalidade no qual você se meteu desde que decidiu que quem não pensa como você deve ser convencido?

Pensemos nisso enquanto saboreamos o pavê a ser servido nesta noite.