Nos meios políticos e jornalísticos de Goiânia, se conveniou afirmar que os problemas da administração Rogério Cruz (SD) se deveram à relação “refém-sequestrador” que Paço e Câmara estabeleceram. Esta relação teria sido criada, por sua vez, pelo rompimento do prefeito com o MDB em abril de 2021.

Segundo a tese, o MDB, partido que tem a maior bancada no Legislativo Municipal, daria governabilidade à gestão; e sua ausência teria criado um vácuo nos quadros executivos da Prefeitura, que foram ocupados por indicações políticas e não técnicas da Câmara Municipal, o que explicaria as sucessivas crises que marcaram a gestão. A tese é convincente, mas, como toda história muito bem fechada, merece questionamento. 

O primeiro ponto a ser questionado é a caracterização do MDB municipal como ator desinteressado, ao contrário do restante da ávida Câmara Municipal. A evidência de que o partido se comporta de forma… partidária, surge novamente nestas vésperas de 2025, quando o MDB anuncia reunião com membros no dia 22 de novembro para discutir a possibilidade de disputa pela presidência da Câmara. O Jornal Opção já havia adiantado o interesse de pelo menos dois membros do MDB na disputa em 29 de outubro. 

Há algum atrito, pois, por um lado, o MDB tem direito a reivindicar esse espaço: em 2024 ampliou sua representação no Legislativo goianiense para oito assentos na Câmara. Há ainda o argumento da importância histórica, já que a sigla teve os quatro presidentes da Câmara antes de Romário Policarpo (Patriota): Andrey Azeredo, Anselmo Pereira, Francisco Júnior e Iram Saraiva. 

Por outro lado, boa parte dos parlamentares emedebistas foram eleitos com o compromisso de apoiar o atual presidente e “pré-candidato” ao terceiro mandato na Mesa Diretora. Policarpo é prezado, entre outras razões, por saber dividir espaço e por ter bom diálogo com todos, incluindo vereadores de situação e de oposição.

O próximo prefeito, Sandro Mabel (UB), eleito com o apoio tanto do MDB quanto de Romário Policarpo, não manifestou preferência por nenhum candidato à presidência da Câmara. Entretanto, desde já, precisa do Legislativo unido. 

Os vereadores aprovaram em definitivo nesta quinta-feira, 7, Refis 2024. O projeto, de iniciativa do Poder Executivo, oferece aos contribuintes inadimplentes a possibilidade de quitação de débitos com perdão de até 99% sobre multas e juros, e é uma forma de a Prefeitura aumentar a arrecadação e fechar as contas do mandato. O projeto permitia que dívidas com Honorários de Sucumbência fossem quitadas em 2025, já na gestão Mabel. 

O prefeito Rogério Cruz vetou o pagamento parcelado com menos descontos para aqueles que quitarem o débito à prazo. O próximo prefeito, que gostaria de iniciar o mandato com esta fonte extra de arrecadação, deve articular na Câmara a derrubada dos vetos. Servidores que trabalham na área econômica da Prefeitura de Goiânia afirmam acreditar que a Câmara deve manter os vetos do prefeito, por acreditarem que aumentar a arrecadação é importante para pagar a folha do funcionalismo. 

Parlamentares ouvidos pelo Jornal Opção, entretanto, interpretam que atender aos pedidos do próximo prefeito é politicamente mais interessante, e uma forma de aumentar a fatura a ser cobrada da próxima gestão. É neste ponto que um presidente da Câmara pode ajudar, evitando que a relação entre Paço e Câmara vá para os rumos “refém-sequestrador”, e se aproxime do diálogo entre os pares.